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CARLOS HEITOR CONY
A unidade ortográfica
RIO DE JANEIRO - Velhíssima questão a da unidade ortográfica do português usado no Brasil e em Portugal.
Que a prosódia seja diferente, é natural. Num país imenso como o nosso,
há diversas formas de pronunciar as
palavras, e o próprio vocabulário admite expressões regionais -o mesmo
acontecendo com todas as línguas do
mundo.
O diabo é a grafia, sobre a qual os
portugueses não abrem mão de escrever "director", por exemplo. Não é o
mesmo caso de "facto" e "fato", que
têm significações diferentes e, com
boa vontade, podemos compreender
a insistência dos portugueses em se
referir à roupa e ao acontecimento.
Arnaldo Niskier, quando presidente da Academia Brasileira de Letras,
conseguiu acordo com a Academia
de Ciências de Lisboa, assinaram-se
tratados com a aprovação dos governos do Brasil e de Portugal. O acordo
previa o consenso de todos os países
lusófonos. Na época, somente os dois
principais interessados estavam em
condições de obter um projeto comum -mais tarde, Cabo Verde
também toparia.
Numa das últimas sessões da ABL,
Sérgio Paulo Rouanet, Alberto da
Costa e Silva e Evanildo Bechara
trouxeram o problema ao plenário
-um dos temas recorrentes da instituição é a feitura definitiva do vocabulário a ser adotado por todos os
países de expressão portuguesa.
Foi então que Arnaldo Niskier, como ex-presidente da Casa, e tendo no
passado a colaboração de Josué Montello e de José Sarney, explicou o consenso que ainda não houve, embora
aprovado pelos governos do Brasil e
português. Na época, Angola, Moçambique e outras ex-colônias enfrentavam problemas de convulsão
interna, guerras civis quase intermitentes. Entende-se e lamenta-se que
seus dirigentes não possam pensar se
devem escrever director ou diretor.
Cristão-novo nesta questão, acredito que não será para os meus dias a
solução para a nossa unidade ortográfica.
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