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ROGÉRIO GENTILE
A gente vai levando
SÃO PAULO - O socorro financeiro do governo Lula, via BNDES, às
faculdades particulares é umas daquelas histórias típicas do "vai levando" brasileiro, em que um erro
se sobrepõe a outro e um apuro privado vira uma fatura coletiva.
Não foi a crise mundial que "quebrou" as faculdades. O problema é
anterior, causado pelo crescimento
desenfreado do setor, inflado por
quem não tinha fôlego para tanto.
Entre 2004 e 2007, a rede particular ampliou em 482,7 mil o número de vagas no vestibular, mas a
quantidade de alunos ingressantes
no ensino superior aumentou em
apenas 167,6 mil. Assim, sem demanda, não há negócio que resista.
O pior é que o sistema engordou,
sobretudo, no quarto dos fundos,
com instituições de péssima qualidade e muitos cursos para carreiras
já saturadas -direito, por exemplo.
Por conveniência política, o Ministério da Educação fechou os
olhos para esse crescimento -mesmo sabendo que o ensino médio vinha diminuindo de tamanho (9,1
milhões de estudantes em 2004 para 8,2 milhões em 2007, em decorrência da evasão escolar e do envelhecimento da população).
Em vez de impor exigências prévias e rígidas para garantir a qualidade dos novos cursos nas universidades e tentar direcioná-los para as
áreas nas quais o mercado de trabalho é carente (engenharia, física
etc.), o governo priorizou as estatísticas -situação, vale ressaltar, que
ocorre desde FHC.
Claro, enche o peito de qualquer
político poder dizer que mais brasileiros estão na faculdade e coisa e
tal. O duro é fazer isso com responsabilidade. O resultado está aí: centenas de instituições com o pires na
mão e milhares de jovens iludidos,
com diplomas de baixa serventia.
E a situação não deve melhorar: a
tal linha de crédito de R$ 1 bilhão do
BNDES praticamente não distingue o ensino sério do picareta -instituições que possuam cursos considerados ruins pelo próprio governo federal também terão direito de
abocanhar uma parte.
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