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CLÓVIS ROSSI
O futuro julga o passado
SÃO PAULO - Antonio Barros de Castro, professor da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro) que é também colunista quinzenal desta Folha,
concluiu seu artigo de ontem com a
observação de que, "paradoxalmente, o acerto de um governo de oposição consagraria, no atacado, a obra
de FHC. E vice-versa".
De fato, bota paradoxo nisso. Setenta e seis por cento dos eleitores votaram em candidatos de oposição, o
que pode ser traduzido, talvez com
excessiva simplificação, em votar
contra o governo.
Em tese, portanto, o governo já fracassou aos olhos do público. Como
poderia justamente uma administração de oposição consagrar a obra de
FHC (e vice-versa)?
Por incrível que pareça, Barros de
Castro tem razão, pelo menos em
parte. Se o governo Lula (ou Serra)
mantiver a espinha dorsal da gestão
FHC e der certo assim mesmo, a biografia de Fernando Henrique sairá
engrandecida.
A sensação que ficará será a de que
o atual presidente semeou o que o seu
sucessor viria a colher.
Por isso mesmo, FHC se opôs frontalmente à candidatura de Roseana
Sarney. Temia o fracasso dela como
presidente, o que mancharia a posteriori sua biografia, ainda mais porque seria uma candidata saída da
própria coalizão "fernandista".
O fato de Lula ser de oposição não
significa que o seu eventual fracasso
não respingue em FHC. Na Argentina, como lembra Barros de Castro, o
fracasso de Fernando de la Rúa (de
oposição a Carlos Menem) levou para a lata de lixo também o que havia
sido elogiado pelo público durante o
período Menem.
O difícil, no Brasil, é definir o que
exatamente é a espinha dorsal do governo FHC, o quanto dela será mantido e o quanto será mudado. É, de
fato, um tremendo paradoxo, mas o
futuro acabará, de alguma maneira,
julgando também o passado.
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