São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O futuro julga o passado

SÃO PAULO - Antonio Barros de Castro, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) que é também colunista quinzenal desta Folha, concluiu seu artigo de ontem com a observação de que, "paradoxalmente, o acerto de um governo de oposição consagraria, no atacado, a obra de FHC. E vice-versa".
De fato, bota paradoxo nisso. Setenta e seis por cento dos eleitores votaram em candidatos de oposição, o que pode ser traduzido, talvez com excessiva simplificação, em votar contra o governo.
Em tese, portanto, o governo já fracassou aos olhos do público. Como poderia justamente uma administração de oposição consagrar a obra de FHC (e vice-versa)?
Por incrível que pareça, Barros de Castro tem razão, pelo menos em parte. Se o governo Lula (ou Serra) mantiver a espinha dorsal da gestão FHC e der certo assim mesmo, a biografia de Fernando Henrique sairá engrandecida.
A sensação que ficará será a de que o atual presidente semeou o que o seu sucessor viria a colher.
Por isso mesmo, FHC se opôs frontalmente à candidatura de Roseana Sarney. Temia o fracasso dela como presidente, o que mancharia a posteriori sua biografia, ainda mais porque seria uma candidata saída da própria coalizão "fernandista".
O fato de Lula ser de oposição não significa que o seu eventual fracasso não respingue em FHC. Na Argentina, como lembra Barros de Castro, o fracasso de Fernando de la Rúa (de oposição a Carlos Menem) levou para a lata de lixo também o que havia sido elogiado pelo público durante o período Menem.
O difícil, no Brasil, é definir o que exatamente é a espinha dorsal do governo FHC, o quanto dela será mantido e o quanto será mudado. É, de fato, um tremendo paradoxo, mas o futuro acabará, de alguma maneira, julgando também o passado.


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