São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

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RESISTÊNCIAS NA BASE

A fim de que possa abrir espaço para uma retomada dos investimentos públicos, o futuro governo, além de estabilizar a economia, terá de promover um rearranjo do gasto público. A consecução dessas duas tarefas vai esbarrar em interesses de setores da sociedade historicamente vinculados ao Partido dos Trabalhadores. Na edição de ontem desta Folha, puderam ser conhecidos dois exemplos preliminares dessas dificuldades que se anunciam.
A perspectiva de que a inflação permaneça pressionada no próximo ano já desperta, no meio sindical, conversas acerca de como preservar o poder de compra do salário com a atual estrutura de negociação, de dissídios anuais. O risco, do ponto de vista da política econômica, é o de que o governo ceda a pleitos desse tipo, que, no limite, podem levar a um novo ciclo de reindexação da economia, o que jogaria por terra a estabilização de preços. O raciocínio, é bom lembrar, vale não apenas para os reclamos salariais mas para qualquer tentativa de diminuir prazos para a revisão de contratos.
O outro ponto de atrito previsível entre o futuro governo Lula e algumas das tradicionais bases do PT é a reforma da Previdência. Assessores do presidente eleito têm dado indicações de que pretendem implantar um teto único para a aposentadoria de todos os trabalhadores. Isso significa o fim, para os novos ingressantes no sistema, do "regime especial" para os servidores públicos, que lhes permite aposentar-se ganhando, automaticamente, o seu último salário da ativa. Nota divulgada por uma entidade de servidores federais repudia a iniciativa com um argumento carente de lógica: "As características dos serviços [públicos" prestados são especiais."
Servidores federais, bem como parte do sindicalismo brasileiro, constituem dois ramos de apoio histórico ao PT. E Lula, ao que parece, de saída precisará frustrar expectativas desses setores se quiser conquistar melhores condições de governo.


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