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RESISTÊNCIAS NA BASE
A fim de que possa abrir espaço
para uma retomada dos investimentos públicos, o futuro governo,
além de estabilizar a economia, terá
de promover um rearranjo do gasto
público. A consecução dessas duas
tarefas vai esbarrar em interesses de
setores da sociedade historicamente
vinculados ao Partido dos Trabalhadores. Na edição de ontem desta Folha, puderam ser conhecidos dois
exemplos preliminares dessas dificuldades que se anunciam.
A perspectiva de que a inflação permaneça pressionada no próximo
ano já desperta, no meio sindical,
conversas acerca de como preservar
o poder de compra do salário com a
atual estrutura de negociação, de dissídios anuais. O risco, do ponto de
vista da política econômica, é o de
que o governo ceda a pleitos desse tipo, que, no limite, podem levar a um
novo ciclo de reindexação da economia, o que jogaria por terra a estabilização de preços. O raciocínio, é bom
lembrar, vale não apenas para os reclamos salariais mas para qualquer
tentativa de diminuir prazos para a
revisão de contratos.
O outro ponto de atrito previsível
entre o futuro governo Lula e algumas das tradicionais bases do PT é a
reforma da Previdência. Assessores
do presidente eleito têm dado indicações de que pretendem implantar
um teto único para a aposentadoria
de todos os trabalhadores. Isso significa o fim, para os novos ingressantes no sistema, do "regime especial" para os servidores públicos, que
lhes permite aposentar-se ganhando, automaticamente, o seu último
salário da ativa. Nota divulgada por
uma entidade de servidores federais
repudia a iniciativa com um argumento carente de lógica: "As características dos serviços [públicos" prestados são especiais."
Servidores federais, bem como parte do sindicalismo brasileiro, constituem dois ramos de apoio histórico
ao PT. E Lula, ao que parece, de saída
precisará frustrar expectativas desses
setores se quiser conquistar melhores condições de governo.
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