São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRISE NA VENEZUELA

Não parece exagero afirmar que a Venezuela está a um passo da ruptura institucional. A greve geral convocada pelos oposicionistas entra já em sua segunda semana, e as perspectivas de um acordo que possa pôr fim ao impasse não são nada animadoras. Ao contrário, há sinais de que o conflito esteja se acirrando. Tiroteios em Caracas já produziram mortes, e o presidente Hugo Chávez afirma que poderá retomar "manu militari" a produção de petróleo, que está parcialmente paralisada. A população teme o desabastecimento e, por isso, corre para supermercados e postos de gasolina.
Os opositores, que começaram exigindo a realização de referendo sobre a permanência de Chávez no comando do país, agora reclamam a renúncia do presidente. Mas Chávez ainda parece ter o apoio de alguns dos setores mais pobres da população bem como parece manter o controle sobre os principais comandantes das Forças Armadas.
Chávez é certamente um líder populista. No passado, liderou uma fracassada tentativa de golpe militar. Mas ele se tornou o legítimo presidente da Venezuela pela via eleitoral.
Seus opositores, por sua vez, já demonstraram, com a tentativa de golpe de abril passado, que não hesitam em romper a legalidade para fazer valer seus pontos de vista. Como têm quase toda a imprensa venezuelana a seu lado, aparecem como vítimas de um ditador sanguinário, o que parece estar longe da verdade.
Chávez falhou em seu dever de conduzir o país a uma reconciliação nacional. Mesmo que sobreviva a essa crise, terá grandes dificuldades políticas para governar.
O melhor que países como o Brasil podem fazer para ajudar a Venezuela neste momento é desempenhar um papel mais ativo de mediação internacional. É preciso encontrar uma fórmula para que ambos os lados concordem com um modo não-violento e legalista de superar a crise.


Texto Anterior: Editoriais: RESISTÊNCIAS NA BASE
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: "O problema"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.