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CLÓVIS ROSSI
"O problema"
SÃO PAULO - É comovente a preocupação do presidente Fernando Henrique Cardoso com os problemas que
o seu sucessor vai enfrentar.
Pela descrição de Eliane Cantanhêde na Folha de ontem, FHC sussurrou a seus companheiros da comitiva
a Nova York que "ele (Lula) não tem
idéia do tamanho, da profundidade
do problema".
Só faltou acrescentar: "Ô, coitado!".
Faltou também acrescentar quem é o
responsável pelo "tamanho e profundidade do problema". Chama-se, para não usar todas as letras, Fernando
Henrique Cardoso. Ponto.
Não é preciso pós-graduação em lugar nenhum para desconfiar que
quem ficou oito anos no poder (recorde absoluto na história democrática
do pobre país tropical) e, não obstante, lega ao sucessor "o problema" tem
todas as culpas no cartório.
Ainda assim, o presidente fala do
"problema" como se tivesse sido produzido por "El Niño", por qualquer
outro fenômeno da natureza ou por
alguma mutação genética de última
hora que alterou as características da
economia e da sociedade brasileiras
levando-as ao "problema".
Pior do que isso só o preconceito de
membros da comitiva (pena que não
identificados) que se deram ao luxo
de ironizar o fato de Antônio Palocci,
coordenador da equipe de transição e
provável futuro ministro da Fazenda,
não falar inglês.
Na roda em que foi feito o comentário, sempre segundo o relato de Eliane, outro dos convivas orgulhava-se
de o atual ministro, Pedro Malan, falar inglês impecavelmente e "dar
show" em reuniões internacionais.
Pena que essa mente torpe e colonizada esqueça que, com todo o seu excelente inglês, Pedro Sampaio Malan
é co-autor, com FHC, do "tamanho e
da profundidade do problema".
Seria melhor que ambos falassem
apenas português, desde que resolvessem "o problema" em vez de dar-lhe tanta "profundidade".
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