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ELIANE CANTANHÊDE
Apesar dos pesares
NOVA YORK - Apesar de FHC ter sido derrotado e de Lula ter sido o vitorioso, é interessante como os discursos
são a sequência um do outro, como se
o de Lula começasse exatamente onde o de FHC acaba.
O que tem isso de curioso, interessante ou estranho? O fato de que Lula
se elegeu para "mudar", não para
"continuar". A "continuidade", que
reforça a posição de FHC, confunde-se com a "mudança" que Lula prega.
Ontem, em Nova York, FHC falou
na necessidade de gerar confiança
nos mercados para impedir a disparada do dólar e da inflação. Emendou com a urgência das reformas tributária, previdenciária e política.
E o que Lula dirá hoje, em Washington, depois de se encontrar na
Casa Branca com Bush? Provavelmente nada muito diferente. Só arranjará um jeito de destacar toda a
prioridade do mundo para o social.
FHC sabe, é claro, e já respondeu de
véspera, preventivamente. Falou, em
entrevista e no discurso em que recebeu justamente um prêmio pelo desenvolvimento humano, que colocou
o Brasil no "rumo certo", que o país
tem "força para seguir adiante" e falou que, com Lula, o Brasil "continuará a avançar".
Mas o maior foco, hoje, deverá estar
no contorcionismo verbal de Lula para ultrapassar as pressões e para
achar um ponto de equilíbrio entre o
pragmatismo, tão necessário para
reabrir os créditos e a boa vontade internacional, e a coerência que lhe exigem os aliados de esquerda.
Em geral, eles são contra governos,
quaisquer governos. O que se quer saber agora é se o governo Lula será
apenas mais um ou se vão rever estratégias, reaprender a conviver e se
ajustar a um presidente "amigo".
O governo PT vai tentar bisbilhotar
e remexer mazelas herdadas de FHC,
mas os discursos soam cada vez mais
parecidos, até porque condicionados
pelo velho adversário: a realidade (financeira, econômica...).
Mais do que "continuar", como
querem os tucanos, ou "mudar", como insistem os petistas, talvez o melhor verbo para o que ocorre no Brasil
seja outro: "avançar".
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