São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

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MARCELO BERABA

As tragédias de sempre

RIO DE JANEIRO - Os cidadãos de Angra dos Reis, cidade de 500 anos a meio caminho entre Rio e São Paulo, ainda não sabiam, na noite de ontem, quantos mortos terão de chorar.
As chuvas que começaram a cair na noite de domingo já tinham provocado um estrago considerável -mais de 30 pessoas mortas e 1.500 desabrigadas; vários bairros arrasados e pelo menos 20 casas destruídas-, mas as autoridades não tinham a dimensão completa das perdas.
É impressionante como entra ano sai ano e essas tragédias se repetem rigorosamente iguais. No ano passado, na véspera do Natal, ocorreu o mesmo, só que em outras regiões do Estado. Foram 65 mortos. Como agora, a maioria morreu soterrada nos deslizamentos de casas e barracos construídos em locais impróprios.
O prefeito de Angra percorreu as regiões afetadas, o que é um dado positivo, porque ajuda a tomar conhecimento da extensão do problema e conforta os flagelados. Mas veio com o argumento de sempre: não chovia assim na área havia mais de 20 anos.
No ano passado, o ex-governador Anthony Garotinho fez discurso semelhante: "Quando há um índice pluviométrico dessa magnitude é um problema em qualquer lugar do mundo". É verdade, mas o problema seria certamente muito menor se as tragédias anteriores tivessem ensinado alguma coisa. Como o controle e a fiscalização da ocupação das áreas de encostas.
Nessas horas, a necessária solidariedade encobre a busca de responsabilidades. Não deveria ser assim.
E com as chuvas voltam ao Rio outros velhos problemas, além das mortes e das perdas patrimoniais. Domingo foi internada a primeira pessoa com suspeita de dengue hemorrágica da temporada. Ou seja, vai ser tudo igual, dengue e chuva, chuva e dengue. Ah, sim: e mortandade de peixes na Lagoa, vazamento de esgotos nas praias, bondes e arrastões nas ruas e guerra civil nos morros.


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