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MARCELO BERABA
As tragédias de sempre
RIO DE JANEIRO - Os cidadãos de Angra dos Reis, cidade de 500 anos a
meio caminho entre Rio e São Paulo,
ainda não sabiam, na noite de ontem, quantos mortos terão de chorar.
As chuvas que começaram a cair na
noite de domingo já tinham provocado um estrago considerável -mais
de 30 pessoas mortas e 1.500 desabrigadas; vários bairros arrasados e pelo
menos 20 casas destruídas-, mas as
autoridades não tinham a dimensão
completa das perdas.
É impressionante como entra ano
sai ano e essas tragédias se repetem
rigorosamente iguais. No ano passado, na véspera do Natal, ocorreu o
mesmo, só que em outras regiões do
Estado. Foram 65 mortos. Como agora, a maioria morreu soterrada nos
deslizamentos de casas e barracos
construídos em locais impróprios.
O prefeito de Angra percorreu as regiões afetadas, o que é um dado positivo, porque ajuda a tomar conhecimento da extensão do problema e
conforta os flagelados. Mas veio com
o argumento de sempre: não chovia
assim na área havia mais de 20 anos.
No ano passado, o ex-governador
Anthony Garotinho fez discurso semelhante: "Quando há um índice
pluviométrico dessa magnitude é um
problema em qualquer lugar do
mundo". É verdade, mas o problema
seria certamente muito menor se as
tragédias anteriores tivessem ensinado alguma coisa. Como o controle e a
fiscalização da ocupação das áreas
de encostas.
Nessas horas, a necessária solidariedade encobre a busca de responsabilidades. Não deveria ser assim.
E com as chuvas voltam ao Rio outros velhos problemas, além das mortes e das perdas patrimoniais. Domingo foi internada a primeira pessoa com suspeita de dengue hemorrágica da temporada. Ou seja, vai ser
tudo igual, dengue e chuva, chuva e
dengue. Ah, sim: e mortandade de
peixes na Lagoa, vazamento de esgotos nas praias, bondes e arrastões nas
ruas e guerra civil nos morros.
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