São Paulo, sábado, 11 de janeiro de 2003

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VINICIUS MOTA

Terra arrasada

SÃO PAULO - Depois de anos de ressaca cambial, a visão que se tem ao compreender os principais números da Cepal (agência regional da ONU) sobre a economia latino-americana é de terra arrasada. Inflação e desemprego em alta, corrosão do poder de compra do salário e do valor internacional da moeda e refluxo radical no investimento afetam praticamente todas as economias da região. Tensão e/ou indefinição no poder político se acrescentam ao drama em países como a Venezuela e a Argentina.
Os sempre aclamados Chile e México constituem uma exceção com ressalvas. Não sofrem como os demais, pois conquistaram uma relativa estabilidade monetária. Mas também padecem de baixos índices de crescimento e investimento.
Algumas economias minguaram. Para cada US$ 100 da renda nacional produzida pela Argentina em 1997, corresponderam menos de US$ 85 em 2002. A Cepal estima que os PIBs de Argentina, Uruguai e Venezuela, nesse ano que passou em relação a 2001, tenham caído, respectivamente, 11%, 10,5% e 7%.
Outra tragédia se deu no investimento produtivo. Para cada centena de dólares de capital investido em 97, foram desembolsados, em 2002, US$ 48 na Argentina, US$ 72 na Venezuela e US$ 93 no Brasil. Com o investimento em queda, os megassuperávits no comércio exterior -exigidos para pagar a conta dos anos de farra cambial- são o par exato de desemprego e desordem monetária.
A inflação ao consumidor, propulsionada por desvalorizações magníficas das moedas locais, no ano passado foi da ordem de 40% na Argentina, de 30% na Venezuela e cravou 12,5% no Brasil.
Na escala da miséria econômica latino-americana, portanto, os otimistas poderiam dizer que o Brasil, se não vai "tão bem" como o Chile e o México, também não vai tão mal quanto a Argentina, o Uruguai e a Venezuela. E tomem juros altos e arrocho fiscal para manter o "statu quo" da mediocridade.


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