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Prioridades distorcidas
O GOVERNO LULA principiou
2007 emitindo sinais contraditórios a respeito de
suas prioridades de investimento. No quinto dia do segundo
mandato, a Presidência vetou da
Lei do Saneamento sancionada
precisamente dispositivos capazes de carrear bilhões de reais
para os deficitários serviços de
água e esgotos.
Nunca é ocioso lembrar que
mais da metade dos domicílios
brasileiros carece de acesso a esgotamento sanitário. Mesmo nas
cidades, um quinto da população
não dispõe nem mesmo de fossas
sépticas.
Um dos vetos recaiu sobre o artigo 54 da lei votada em dezembro na Câmara. Nele se dispunha
que investimentos das empresas
em obras poderiam ser usados
como créditos no recolhimento
da Cofins e do PIS/Pasep.
Para a Presidência, isso traria
"graves repercussões para o alcance das metas do equilíbrio fiscal". Tresandam a ironia as razões do veto: "Permitir desoneração adicional de tributos significaria dificuldades para a manutenção das despesas sociais em
níveis satisfatórios".
Em outras palavras, o governo
dá por intocável a escorchante
carga tributária, descumpre religiosamente a obrigação de investir impostos na ampliação do saneamento e ainda fulmina uma
rara iniciativa para que empresas do ramo o façam. Isso depois
de ter agraciado o setor esportivo
com incentivos de até R$ 300
milhões e manter intacto o R$
1,2 bilhão reservado à cultura.
Nada contra o esporte e a cultura, decerto. Incentivo por incentivo, porém, negar somas
comparáveis a investimento que
salva vidas monta a uma lamentável distorção de prioridades.
Espera-se, agora, que o governo envie -no tão falado quanto
mal delineado Plano de Aceleração do Crescimento- sinais
mais esclarecedores acerca de
como pretende promover a universalização do saneamento.
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