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CLÓVIS ROSSI
O espetáculo Chávez
SÃO PAULO - Transcrevo boa parte do juramento prestado ontem
pelo presidente venezuelano Hugo
Chávez:
"Juro ante esta maravilhosa
Constituição, juro ante os senhores, juro por Deus, juro pelo Deus
de meus país, juro pelos meus filhos, juro por minha honra, juro por
minha vida, juro pelos mártires, juro pelos libertadores, juro por meu
povo e juro por minha pátria que
não darei descanso a meu braço
nem repouso à minha alma ao entregar meus dias, minhas noites e
minha vida inteira na construção
do socialismo venezuelano".
Não pense que acabou não. Tem
mais o seguinte:
"Juro por Cristo, o maior socialista da história, juro pelas dores,
amores e esperanças, que farei
cumprir e que cumprirei com os
mandatos supremos desta maravilhosa Constituição, com os mandatos supremos do povo venezuelano,
ainda que à custa de minha própria
vida e de minha própria tranqüilidade".
Final, obviamente apoteótico:
"Pátria, socialismo o muerte".
Primeira observação, puramente
factual: se a Constituição é tão maravilhosa assim, para ser por duas
vezes tratada como tal, para que
modificá-la, de forma a introduzir a
reeleição permanente, entre outras
novidades já anunciadas pelo presidente?
Segunda observação, puramente
pessoal: nada contra ou a favor do
socialismo, de Deus, da pátria, dos
libertadores, de um Cristo socialista, mas não é um imenso excesso de
histrionismo, de retórica típica dos
caudilhos latino-americanos?
Quem está convencido do que diz
e do que faz ou pretende fazer não
precisa adotar profissão de fé em
um martírio que nem remotamente
está à vista.
De duas, uma: ou estou ficando
velho e cínico demais ou a América
Latina merece mais ousadia, sim,
mas também mais seriedade e menos espetáculo.
crossi@uol.com.br
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