São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2004

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MAIS POBRE

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) está estudando maneiras de obter em próximos levantamentos dados mais precisos sobre o processo de favelização em curso no país. Segundo as estimativas atuais, cerca de 9,2 milhões de pessoas vivem em favelas no Brasil. O número é bastante questionável. Ele resulta de dados do Censo de 2000 e de informações enviadas ao IBGE por prefeituras de municípios com mais de 200 mil habitantes. Além da clivagem populacional, que limita a contagem, e do risco de subnotificação, os critérios para determinar o que é uma favela são discutíveis. Tudo indica, portanto, que o problema tenha dimensões maiores.
O crescimento das habitações precárias nas grandes cidades é um fato que salta aos olhos. Sem ter absorvido de forma satisfatória o afluxo populacional provocado pelo processo de industrialização e urbanização, o país, nos últimos anos, vem enfrentando um ciclo de empobrecimento, desemprego e baixo crescimento que vai agravando as condições de vida nos principais centros urbanos.
Ao fim de 2003, em termos reais, a renda média auferida pelos trabalhadores brasileiros retornou ao nível pré-Plano Real. Ou seja, os ganhos de poder aquisitivo tão festejados à época da estabilização da moeda já foram perdidos. É sintomático que, no ano passado, a produção da indústria no setor de bens semi ou não-duráveis, entre os quais encontram-se alimentos, vestuário e remédios, tenha caído 5,5% em relação a 2002.
Paralelamente ao processo de deterioração do poder de compra, verifica-se o persistente avanço do desemprego e a consolidação, no plano macroeconômico, de um padrão medíocre e concentrador de crescimento que se estende por décadas.
Trata-se de uma combinação perversa, cujo resultado só pode ser mais pobreza, sob a forma de mais favelas, mais insegurança e mais desigualdade social.


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