São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2004

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RACISMO POLICIAL

É revoltante a história da morte do dentista Flávio Ferreira Sant'Ana, ao que tudo indica assassinado por policiais militares em São Paulo. O episódio é emblemático dos piores e mais arraigados vícios da polícia paulista.
Para começar, Sant'Ana morreu porque era negro. Como tinha a cor "errada", foi abordado por policiais. Como muitos supõem que todo negro é potencialmente um bandido, Sant'Ana foi identificado por uma testemunha como o ladrão que acabara de assaltá-lo. E como "bandido bom é bandido morto", Sant'Ana acabou sendo baleado.
Os absurdos não param por aí. Segundo os policiais acusados de ter matado Sant'Ana, o jovem dentista reagiu à bala à abordagem e morreu no tiroteio. Sant'Ana foi "encontrado" com a a carteira da vítima do assalto no bolso e uma arma na mão. Todavia, o próprio comando da PM duvida da versão dos policiais. Ao que tudo indica, os acusados forjaram a cena. Aplicaram ao dentista o chamado "kit assassino", a arma extra utilizada para simular casos de resistência seguida de morte.
Aparentemente, a simulação só não deu certo porque Sant'Ana era um profissional com diploma de curso superior. Não seria verossímil que estivesse praticando assaltos à mão armada. Era, por assim dizer, o negro "errado". Para agravar o quadro, três dos cinco PMs envolvidos já foram alvo de denúncias em histórias semelhantes. Se uma investigação mais completa tivesse sido realizada, e os policiais, afastados, o jovem dentista talvez estivesse vivo.
Se quisermos resumir o episódio sem meias-palavras, podemos dizer, pelos indícios reunidos, que um jovem negro perdeu a vida porque inadvertidamente se deparou com policiais racistas que atiram antes de perguntar e ainda falsificam provas para tentar escapar impunes. Lamentavelmente, não estamos diante de uma exceção. Todos os anos, muitos "suspeitos" são mortos de forma semelhante no Brasil.


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