São Paulo, segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

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VALDO CRUZ

Demorou por quê?

BRASÍLIA - Chefe da Controladoria Geral da União, Jorge Hage revelou-me que há um ano defendia dentro do governo fixar limites nos saques em dinheiro dos cartões corporativos. Seu argumento: ele é tão opaco quanto as "contas B", mecanismo em que o servidor pega o dinheiro e depois presta contas.
Convenhamos, o saque e a "conta B" criam uma avenida para a fabricação de notas fiscais frias. O servidor pode gastar com o que desejar e, depois, arranja uma notinha. Nos dois casos, como diz Hage, a transparência inexiste.
Por que então o governo não adotou a sugestão do ministro responsável pela fiscalização das contas públicas? Bem, o próprio Hage procura justificar a letargia federal. Diz que o timing do governo não é o mesmo da imprensa.
O fato é que o governo só acordou para o tema depois que ele foi lançado à luz do dia pela imprensa. Justiça seja feita, isso foi possível porque o órgão de Hage disponibilizou os dados na internet.
Agora, depois da porta arrombada, o Palácio do Planalto descobriu que estava tudo muito frouxo. Que havia uma farra de saques em dinheiro nos cartões -nada menos que 75% dos R 78 milhões gastos no ano passado.
O que não dá para entender é por que o governo demorou tanto tempo em adotar algo defendido internamente há um ano. Talvez por incompetência. Talvez de propósito. Talvez a mistura dos dois. A CPI dos Cartões Corporativos poderá nos dar a resposta.
CPI que deve aperfeiçoar o uso do cartão, não caminhar para sua extinção como defendem alguns. Afinal, foi ele que revelou o festival de descontrole das compras do governo federal, um abuso do seu, do meu, do nosso dinheiro.
Comissão que também deve restringir tudo aquilo que hoje, disfarçado de sigiloso, pode estar encobrindo gastos irregulares e mordomias injustificáveis.
Enfim, se a transparência ainda não é a ideal, ela avançou. O que falhou, e feio, foi a fiscalização.


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