|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VALDO CRUZ
Demorou por quê?
BRASÍLIA - Chefe da Controladoria Geral da União, Jorge Hage revelou-me que há um ano defendia
dentro do governo fixar limites nos
saques em dinheiro dos cartões corporativos. Seu argumento: ele é tão
opaco quanto as "contas B", mecanismo em que o servidor pega o dinheiro e depois presta contas.
Convenhamos, o saque e a "conta
B" criam uma avenida para a fabricação de notas fiscais frias. O servidor pode gastar com o que desejar e,
depois, arranja uma notinha. Nos
dois casos, como diz Hage, a transparência inexiste.
Por que então o governo não adotou a sugestão do ministro responsável pela fiscalização das contas
públicas? Bem, o próprio Hage procura justificar a letargia federal. Diz
que o timing do governo não é o
mesmo da imprensa.
O fato é que o governo só acordou
para o tema depois que ele foi lançado à luz do dia pela imprensa.
Justiça seja feita, isso foi possível
porque o órgão de Hage disponibilizou os dados na internet.
Agora, depois da porta arrombada, o Palácio do Planalto descobriu
que estava tudo muito frouxo. Que
havia uma farra de saques em dinheiro nos cartões -nada menos
que 75% dos R 78 milhões gastos no
ano passado.
O que não dá para entender é por
que o governo demorou tanto tempo em adotar algo defendido internamente há um ano. Talvez por incompetência. Talvez de propósito.
Talvez a mistura dos dois. A CPI dos
Cartões Corporativos poderá nos
dar a resposta.
CPI que deve aperfeiçoar o uso do
cartão, não caminhar para sua extinção como defendem alguns. Afinal, foi ele que revelou o festival de
descontrole das compras do governo federal, um abuso do seu, do
meu, do nosso dinheiro.
Comissão que também deve restringir tudo aquilo que hoje, disfarçado de sigiloso, pode estar encobrindo gastos irregulares e mordomias injustificáveis.
Enfim, se a transparência ainda
não é a ideal, ela avançou. O que falhou, e feio, foi a fiscalização.
Texto Anterior: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: A gincana do PSDB Próximo Texto: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Ditadura da cacofonia Índice
|