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Saindo do muro
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - "Devemos reconhecer a fragilidade do modelo de crescimento
com poupança externa, que torna a
economia permanentemente vulnerável a qualquer mudança de conjuntura internacional."
"O maior perigo que corremos é uma
eventual melhoria do ambiente macroeconômico nos próximos meses servir de justificativa para não se buscar
mudanças no modelo."
"Para dar um basta na recessão, há
que se libertar de alguns dogmas liberalizantes, tão danosos quanto os sepultados dogmas estatizantes."
"Há que se ter ousadia no enfrentamento de dois mitos: as taxas de juros
elevadas e a liberalização comercial."
Esse discurso não é do PT, do PSB ou
do PDT, mas sim do senador tucano
Paulo Hartung (ES). Ele tem apoio da
cúpula do PSDB. É também ligado ao
ministro José Serra (Saúde), que queria fazê-lo presidente do partido. E é
mais ainda ao ex-ministro Luiz Carlos
Mendonça de Barros, que esteve em
Brasília e ajudou a redigir o texto.
Eles se dizem "desenvolvimentistas",
não comungam nos "dogmas liberalizantes" do ministro Pedro Malan e
não estão satisfeitos com a atuação de
Celso Lafer no Ministério do Desenvolvimento - pasta que idealizaram.
O discurso é apenas o começo e caracteriza: 1) mais uma tentativa do
PSDB de recuperar destaque na cena
política; 2) a rearticulação dos que
querem orientar o investimento público para a retomada do crescimento e a
geração de empregos.
Na expectativa dos tucanos, a CPI
do Judiciário vai apenas produzir subsídios para a comissão da reforma
criada na Câmara. Já a CPI dos Bancos pode se transformar numa batalha
diária e desgastante para o governo.
Enquanto isso, o PSDB senta, espera
o andar da carruagem das CPIs e capitaneia a inevitável discussão sobre
os rumos da política econômica.
O dólar e a inflação sob controle podem ser insuficientes para garantir
sossego à área que Malan agora comanda sozinho. Vêm aí as denúncias
da CPI contra o Banco Central e as
críticas dos "desenvolvimentistas" tucanos. O debate pós-desvalorização
está apenas começando.
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