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Reserva de lucro
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Concordo com alguns neoliberais globalizados quanto
à malignidade da reserva de mercado.
A não ser em tempos de guerra, nada
mais nefasto do que tornar estanques
alguns setores da economia nacional.
Contudo pior do que a reserva de
mercado é a reserva de lucro que o
atual governo implantou. Tudo pode
ruir, a moeda, o custo de vida, o parque industrial, o mercado de trabalho,
a moral e a compostura. Menos o lucro dos investidores e dos agentes financeiros.
O argumento mais tolo que eles
apresentam é o da reação em cadeia.
Um banco mal administrado, ou dolosamente operado, é um organismo podre que deve ser extirpado do corpo
sadio do próprio mercado. Não se trata de um axioma econômico-financeiro. É um conceito elementar que se
aplica a uma maçã podre.
A menos que todo o sistema seja incompetente ou corrupto, os bancos
realmente sólidos, que não operam na
base de favores ilegais, não precisarão
temer uma reação em cadeia. Cai
quem tem de cair, quem comete as
mesmas irregularidades, beneficiando-se dos elementos infiltrados no poder para ter acesso às informações privilegiadas e praticando outras formas
de improbidade. Que, aliás, são muitas.
A grita do governo, em especial da
equipe econômica, invocando os perigos da reação em cadeia, é um urro a
favor da reserva do lucro. Um tipo de
nacionalismo a favor do bolso interessado.
Não vem ao caso citar Brecht, autor
meio fora de moda, mas que não pode
ser acusado de idiota: tanto faz roubar ou fundar um banco. Se assim é,
então que venha a reação em cadeia,
desde que haja cadeia para punir a incompetência ou a corrupção.
Pode ser uma solução apocalíptica,
os bancos todos quebrados. Na terra
arrasada que sobrar (se sobrar alguma coisa), talvez seja possível a existência de um governo que não use o
meu, o seu e o nosso dinheiro para garantir o lucro de quem é incompetente
ou corrupto.
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