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CLÓVIS ROSSI
Patos e patos mancos
MADRI - Dias atrás, especialista de uma firma de investimento norte-americana deu entrevista à Folha na
qual anunciava o apocalipse no Brasil à medida que ficasse claro que
Luiz Inácio Lula da Silva seria o novo presidente da República.
Subiria o risco-país, os juros também, o real despencaria etc. e tal. Detalhe: o analista dizia que tudo aconteceria antes mesmo que Lula assumisse. Ou seja, haveria uma espécie
de "fuzilamento preventivo".
Parece que o cenário previsto pelo
economista está se realizando com
muita antecedência. Lula continua
sendo o líder em todas as pesquisas,
mas é preciso muita fé (dos petistas)
ou má-fé (dos especuladores de plantão) para apostar desde já na vitória
do candidato do PT.
O diabo é que o tal de mercado não
quer saber de fatos. Usa qualquer
coisa para especular ou para fazer
terrorismo eleitoral. Pior: no caso do
Brasil, até há fatos que explicam a
aposta contra o país (vulnerabilidade externa, excessivo endividamento, anemia na atividade econômica
etc.). E não adianta dizer que o governo Fernando Henrique Cardoso é
culpado por tais deficiências.
O jogo não segue nem lógica nem
decência. Basta lembrar a frustrada
tentativa de golpe contra o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, para
saber que pouco valem, para certa
gente, valores como regras democráticas, respeito ao direito de escolha de
cada sociedade etc.
Por isso mesmo, suspeito que os assessores dos candidatos presidenciais
deveriam começar desde já a trabalhar em um plano econômico de
emergência para enfrentar a difícil
situação que o tal de mercado vai
criar daqui até a posse.
Afinal, vença ou não, o lógico é supor que Lula continuará liderando
as pesquisas por mais um bom tempo. A pressão, portanto, vai se acentuar, e qualquer um que seja finalmente o eleito pagará o pato. Ou,
pior ainda, já no início do governo,
será um "pato manco", como os norte-americanos chamam governantes
sem força.
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