São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Patos e patos mancos

MADRI - Dias atrás, especialista de uma firma de investimento norte-americana deu entrevista à Folha na qual anunciava o apocalipse no Brasil à medida que ficasse claro que Luiz Inácio Lula da Silva seria o novo presidente da República.
Subiria o risco-país, os juros também, o real despencaria etc. e tal. Detalhe: o analista dizia que tudo aconteceria antes mesmo que Lula assumisse. Ou seja, haveria uma espécie de "fuzilamento preventivo".
Parece que o cenário previsto pelo economista está se realizando com muita antecedência. Lula continua sendo o líder em todas as pesquisas, mas é preciso muita fé (dos petistas) ou má-fé (dos especuladores de plantão) para apostar desde já na vitória do candidato do PT.
O diabo é que o tal de mercado não quer saber de fatos. Usa qualquer coisa para especular ou para fazer terrorismo eleitoral. Pior: no caso do Brasil, até há fatos que explicam a aposta contra o país (vulnerabilidade externa, excessivo endividamento, anemia na atividade econômica etc.). E não adianta dizer que o governo Fernando Henrique Cardoso é culpado por tais deficiências.
O jogo não segue nem lógica nem decência. Basta lembrar a frustrada tentativa de golpe contra o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, para saber que pouco valem, para certa gente, valores como regras democráticas, respeito ao direito de escolha de cada sociedade etc.
Por isso mesmo, suspeito que os assessores dos candidatos presidenciais deveriam começar desde já a trabalhar em um plano econômico de emergência para enfrentar a difícil situação que o tal de mercado vai criar daqui até a posse.
Afinal, vença ou não, o lógico é supor que Lula continuará liderando as pesquisas por mais um bom tempo. A pressão, portanto, vai se acentuar, e qualquer um que seja finalmente o eleito pagará o pato. Ou, pior ainda, já no início do governo, será um "pato manco", como os norte-americanos chamam governantes sem força.



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