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CLÓVIS ROSSI
As cores do mundo
SÃO PAULO - Salvo umas poucas honrosas exceções, o debate público
no Brasil se dá no seguinte nível de
indigência: se você criticava o governo do PSDB, é porque era petista; se
critica o governo do PT, é porque é
tucano, não importa que tenha criticado o governo tucano (em geral pelos mesmos motivos pelos quais é criticável o governo petista).
Se você critica o capitalismo, é um
perigoso comunista, uma viúva de
Stálin. Se critica o comunismo, é
agente da CIA (um problema hoje
atenuado, porque o objeto da crítica
praticamente desapareceu).
Se você critica a política econômica
palocci-malanista, é porque quer o
calote, mais inflação, o descontrole
das contas públicas, o caos. Se elogia,
é porque é chapa-branca (o que não
impede que alguns elogios sejam, de
fato, chapa-branca, assim como algumas críticas queiram de fato o
caos. O diabo é a generalização).
É um mundo binário. Só vê preto e
branco, o que despreza todo o amplo
leque de cores entre uma e outra.
Pena que a vida real seja imensamente mais complexa. Veja o caso
das comemorações pelo 60º aniversário do fim da Segunda Guerra.
Visto em preto e branco, pelo lado
ocidental, o comunismo e seu grande
espaço territorial (a União Soviética)
eram o demônio. Vista mais de perto,
agora que já não representa risco para o Ocidente, a URSS (e, portanto, o
comunismo) foi vital, decisiva para a
vitória contra o nazismo.
Viva o comunismo então? Nada.
Abaixo o comunismo. Na festa da libertação da Europa do nazismo, coube à Polônia, entre outros países ex-comunistas, o desagradável lembrete
de que a libertação foi para uns poucos (a França, por exemplo). Para a
Polônia e para os países bálticos, entre tantos outros, trocou-se de opressão: saíram o nazismo e a Whermacht e entraram o comunismo e o
Exército Vermelho.
Ah, como seria bom render-se ao
pensamento binário. Você escolhe
um lado e fica dispensado de pensar.
Pensam por você.
@ - crossi@uol.com.br
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