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JUVENTUDE E POPULISMO
Não é novidade que períodos
eleitorais constituam campo
fértil para o populismo. Mas, quando o apelo demagógico prospera em
terreno propício ao emocionalismo e
desperta o sentido de urgência da população, como é o caso da segurança
pública, tendem a ampliar-se os estragos que algumas propostas eleitoreiras podem provocar.
É o caso da idéia de reduzir a maioridade penal do Brasil. Ela fere o
princípio, consagrado no Direito
brasileiro, de que o jovem é um ser
em formação. A compreensão que
ele tem de seus atos é mais limitada
do que a de um adulto. O adolescente
pode e deve ser punido pelo que faz
de errado, mas a sanção deve ter um
caráter predominantemente educativo. É ridículo imaginar algo de pedagógico no fato de um jovem ir para a
cadeia aos 16 anos e de lá só sair aos
46, após cumprir 30 anos, a pena máxima prevista pela lei brasileira.
De resto, é uma impostura afirmar
que os jovens ficam impunes no Brasil. A maior pena a que eles podem
ser condenados é de três anos, mas
as unidades reservadas aos menores
infratores nas Febens não são muito
diferentes dos presídios ordinários.
Parte da criminalidade juvenil também se explica pelo fato de as quadrilhas se utilizarem de menores (e sua
suposta impunidade) para cometer
certos delitos. Uma eventual redução
da maioridade penal faria com que
os bandidos procurassem seus soldados entre um contingente ainda
mais jovem do que o atual. No limite,
poderiam usar crianças de oito ou
nove anos. E o que o Estado faria?
Deveria, como os EUA, condenar
menores de 18 anos à morte?
O populismo trabalha com simplificações. Finge ter uma resposta simples e infalível para um problema
complexo e de difícil solução. A violência, infelizmente, encontra-se na
segunda categoria. Combatê-la exigirá políticas públicas de inclusão
social, principalmente para a juventude, e não "soluções mágicas", tão
fáceis quanto enganosas, como a de
mandar crianças para o xadrez.
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