São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Os limites do presidente

SÃO PAULO - O presidente Fernando Henrique Cardoso aceitou dar uma palavrinha à Globo, no domingo à noite, a propósito do assassinato do jornalista Tim Lopes. Melhor seria ter ficado quieto.
O presidente começou dizendo que as coisas haviam "passado do limite". Exatamente o mesmo que dissera meses atrás, quando do sequestro e posterior assassinato do prefeito Celso Daniel (Santo André, PT).
Não, presidente, a violência no Brasil não passou do limite agora ou no início do ano. Já havia passado quando o senhor se candidatou, tanto que um dos cinco dedos de sua mão espalmada na campanha de 1994, simbolizando as prioridades, representava a segurança.
De lá para cá, a situação nesse terreno só fez piorar. Como já não há mais tempo para que seu governo faça alguma coisa de realmente significativo em matéria de segurança pública, seria mais honesto se, em vez de dizer "passou do limite", o senhor dissesse: "Fracassei".
Na grande maioria das outras áreas, o seu governo pode ser definido com a surrada imagem do copo meio cheio, meio vazio. Na segurança, não. É um copo definitivamente cheio, mas cheio de veneno. É uma área em que as coisas estão hoje piores do que estavam em 1994.
O veneno é tão corrosivo que Constança Guimarães, assessora de imprensa do Sebrae-SP, escreve para contar que foi roubada (dinheiro e celular) ao sair para trabalhar ontem cedo no ex-tranquilo bairro da Aclimação. Pergunta se conseguirá ensinar à filha que "a vida dela não passará dentro de portões e de carros".
Pois é, presidente, no seu governo, em vez de reduzir a violência, como prometeu na campanha, o senhor, com inestimável ajuda dos governos estaduais, permitiu que a violência reduzisse o direito sagrado e constitucional de ir e vir dos brasileiros.
Pode haver mais redondo fracasso?


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