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CLÓVIS ROSSI
Os limites do presidente
SÃO PAULO - O presidente Fernando Henrique Cardoso aceitou dar uma
palavrinha à Globo, no domingo à
noite, a propósito do assassinato do
jornalista Tim Lopes. Melhor seria
ter ficado quieto.
O presidente começou dizendo que
as coisas haviam "passado do limite".
Exatamente o mesmo que dissera
meses atrás, quando do sequestro e
posterior assassinato do prefeito Celso Daniel (Santo André, PT).
Não, presidente, a violência no Brasil não passou do limite agora ou no
início do ano. Já havia passado
quando o senhor se candidatou, tanto que um dos cinco dedos de sua
mão espalmada na campanha de
1994, simbolizando as prioridades,
representava a segurança.
De lá para cá, a situação nesse terreno só fez piorar. Como já não há
mais tempo para que seu governo faça alguma coisa de realmente significativo em matéria de segurança pública, seria mais honesto se, em vez de
dizer "passou do limite", o senhor
dissesse: "Fracassei".
Na grande maioria das outras
áreas, o seu governo pode ser definido
com a surrada imagem do copo meio
cheio, meio vazio. Na segurança, não.
É um copo definitivamente cheio,
mas cheio de veneno. É uma área em
que as coisas estão hoje piores do que
estavam em 1994.
O veneno é tão corrosivo que Constança Guimarães, assessora de imprensa do Sebrae-SP, escreve para
contar que foi roubada (dinheiro e
celular) ao sair para trabalhar ontem
cedo no ex-tranquilo bairro da Aclimação. Pergunta se conseguirá ensinar à filha que "a vida dela não passará dentro de portões e de carros".
Pois é, presidente, no seu governo,
em vez de reduzir a violência, como
prometeu na campanha, o senhor,
com inestimável ajuda dos governos
estaduais, permitiu que a violência
reduzisse o direito sagrado e constitucional de ir e vir dos brasileiros.
Pode haver mais redondo fracasso?
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