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ELIANE CANTANHÊDE
O caos
BRASÍLIA - O desemprego é alto, o dólar sobe, a dívida multiplica e, vira
e mexe, aparece alguém acenando
com o fantasma da Argentina.
Enquanto isso, o que fazem as cúpulas das campanhas presidenciais?
Pode-se imaginar que façam propostas, sugiram alternativas, pensem em
ações preventivas desde já. Errado.
O que as campanhas dos presidenciáveis analisam hoje, especialmente
as de Lula e de Serra, é qual deles perde e qual deles ganha com a ameaça
de caos. Dane-se a crise. O que importa é o efeito político-eleitoral dela.
Depois do Datafolha de domingo,
em que Lula caiu três pontos e Serra
subiu quatro, ficou mais grave. Os gênios de marketing só pensam naquilo: para quem o pior é melhor.
Lula se beneficia caso a coisa piore
e a ira popular (e eleitoral) caia na
cabeça de Serra? Ou, ao contrário,
Serra se beneficia com o pânico difuso de que, com Lula, tudo desande
mais dramaticamente?
Na verdade, não há resposta para
isso. Depende do freguês, do momento, de bater na tecla, do que acontecer, do grau de ameaça ao país e ao
eleitor, diretamente. Como ainda
não há certezas, o resto é chute.
Clóvis Rossi deu uma bola dentro
ao entrevistar o megainvestidor
George Soros, e Soros deu uma bola
fora ao chutar que a eleição de Lula
vai mergulhar o Brasil no caos e enfatizar que esta é uma "profecia que se
autocumpre". Algo meio religioso,
místico, questão de fé. Assombroso.
Alternância de poder, ou a possibilidade real dela, não significa o caos.
É apenas uma premissa da democracia. O oposto é típico de ditaduras,
quando as oposições até disputam,
desde que não ganhem.
Mas, enfim, viver é aprender. E, enquanto se discute a quem o caos interessa, já se sabe a quem interessa
alardear o caos. A Soros e à gente dele, por exemplo, certos de que "só
americano vota, brasileiro não vota".
É por essas e por outras que o deputado José Genoino (PT) desabafa: "O
duro não é concorrer com o Serra. É
concorrer com o sistema".
Pelo visto, um sistema global.
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