São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

O caos

BRASÍLIA - O desemprego é alto, o dólar sobe, a dívida multiplica e, vira e mexe, aparece alguém acenando com o fantasma da Argentina.
Enquanto isso, o que fazem as cúpulas das campanhas presidenciais? Pode-se imaginar que façam propostas, sugiram alternativas, pensem em ações preventivas desde já. Errado.
O que as campanhas dos presidenciáveis analisam hoje, especialmente as de Lula e de Serra, é qual deles perde e qual deles ganha com a ameaça de caos. Dane-se a crise. O que importa é o efeito político-eleitoral dela.
Depois do Datafolha de domingo, em que Lula caiu três pontos e Serra subiu quatro, ficou mais grave. Os gênios de marketing só pensam naquilo: para quem o pior é melhor.
Lula se beneficia caso a coisa piore e a ira popular (e eleitoral) caia na cabeça de Serra? Ou, ao contrário, Serra se beneficia com o pânico difuso de que, com Lula, tudo desande mais dramaticamente?
Na verdade, não há resposta para isso. Depende do freguês, do momento, de bater na tecla, do que acontecer, do grau de ameaça ao país e ao eleitor, diretamente. Como ainda não há certezas, o resto é chute.
Clóvis Rossi deu uma bola dentro ao entrevistar o megainvestidor George Soros, e Soros deu uma bola fora ao chutar que a eleição de Lula vai mergulhar o Brasil no caos e enfatizar que esta é uma "profecia que se autocumpre". Algo meio religioso, místico, questão de fé. Assombroso.
Alternância de poder, ou a possibilidade real dela, não significa o caos. É apenas uma premissa da democracia. O oposto é típico de ditaduras, quando as oposições até disputam, desde que não ganhem.
Mas, enfim, viver é aprender. E, enquanto se discute a quem o caos interessa, já se sabe a quem interessa alardear o caos. A Soros e à gente dele, por exemplo, certos de que "só americano vota, brasileiro não vota".
É por essas e por outras que o deputado José Genoino (PT) desabafa: "O duro não é concorrer com o Serra. É concorrer com o sistema".
Pelo visto, um sistema global.


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