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CARLOS HEITOR CONY
Estado paralelo
RIO DE JANEIRO - Mais uma vez, ficou provada a existência de um Estado dentro do Estado. O pessoal do crime organizado (expressão-ônibus
que inclui o tráfico, o contrabando,
as quadrilhas da violência urbana e
rural, os sequestradores e a turma
dos arrastões) prendeu, julgou, torturou e matou um jornalista que exercia o seu papel profissional num morro aqui do Rio.
A governadora Benedita da Silva
pediu desculpas à família do jornalista em nome do Estado que não controla o Estado paralelo criado pelos
criminosos. O problema não é exclusivo do Rio, atinge igualmente São
Paulo e, eventualmente, outras grandes cidades.
O que chamou a atenção na hediondez desse crime foi o fato de os
três principais suspeitos do trucidamento de Tim Lopes serem manjados
tanto no setor policial como no judiciário. Os três já foram presos várias
vezes, sendo que o chefe deles foi solto
recentemente por "bom comportamento" carcerário.
Isso mostra a fragilidade do Estado
legal na guerra civil que já existe dentro de nosso território físico e espiritual. Temos leis que procuramos respeitar, leis que abrem centenas de
brechas e dão uma vantagem operacional ao adversário que se soma à
vantagem material de que ele já dispõe, com armamentos e recursos que
faltam à polícia e ao Judiciário.
Acredito que não vá ser pelo aumento de recursos que vamos vencer
a guerra civil que se instalou entre
nós. Sabemos que a proibição somada ao intenso e progressivo uso da
droga pela sociedade como um todo,
não sendo a causa única, é a mais
importante no atual estágio da luta.
Os males advindos da liberalização
da droga poderão ser muitos, mas
bem menores do que os causados pela proibição.
Afinal, droga liberada só prejudica
quem a usa. Droga proibida mata
inocentes, pode matar qualquer um
de nós.
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