São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Estado paralelo

RIO DE JANEIRO - Mais uma vez, ficou provada a existência de um Estado dentro do Estado. O pessoal do crime organizado (expressão-ônibus que inclui o tráfico, o contrabando, as quadrilhas da violência urbana e rural, os sequestradores e a turma dos arrastões) prendeu, julgou, torturou e matou um jornalista que exercia o seu papel profissional num morro aqui do Rio.
A governadora Benedita da Silva pediu desculpas à família do jornalista em nome do Estado que não controla o Estado paralelo criado pelos criminosos. O problema não é exclusivo do Rio, atinge igualmente São Paulo e, eventualmente, outras grandes cidades.
O que chamou a atenção na hediondez desse crime foi o fato de os três principais suspeitos do trucidamento de Tim Lopes serem manjados tanto no setor policial como no judiciário. Os três já foram presos várias vezes, sendo que o chefe deles foi solto recentemente por "bom comportamento" carcerário.
Isso mostra a fragilidade do Estado legal na guerra civil que já existe dentro de nosso território físico e espiritual. Temos leis que procuramos respeitar, leis que abrem centenas de brechas e dão uma vantagem operacional ao adversário que se soma à vantagem material de que ele já dispõe, com armamentos e recursos que faltam à polícia e ao Judiciário.
Acredito que não vá ser pelo aumento de recursos que vamos vencer a guerra civil que se instalou entre nós. Sabemos que a proibição somada ao intenso e progressivo uso da droga pela sociedade como um todo, não sendo a causa única, é a mais importante no atual estágio da luta. Os males advindos da liberalização da droga poderão ser muitos, mas bem menores do que os causados pela proibição.
Afinal, droga liberada só prejudica quem a usa. Droga proibida mata inocentes, pode matar qualquer um de nós.


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