São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 2002

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AIDS E RELIGIÃO

Não convém misturar religião e prevenção à Aids. Para obter resultados na contenção da epidemia é necessário abordar o sexo de maneira direta e sem julgamentos morais. E a maioria das religiões propõe um padrão de comportamento sexual que frequentemente conflita com as recomendações dos especialistas de distribuir camisinhas e falar francamente sobre sexo.
No ano passado, o mundo riu quando o presidente do Quênia, Daniel Arap Moi, numa tentativa extravagante de conter a epidemia de Aids, pediu à população do país que se abstivesse de fazer sexo por um período de dois anos. Arap Moi recorreu a esse expediente depois que uma proposta do governo de importar 300 milhões de camisinhas foi violentamente atacada pelas lideranças católica e muçulmana do país.
No caso dos EUA, foram também convicções religiosas que levaram o presidente Bush a redirecionar grande parte dos esforços -e das verbas- anti-Aids para programas que incentivam a abstinência sexual entre jovens em detrimento de iniciativas que prevêem o estímulo ao uso de preservativos e sua distribuição.
Mesmo no Brasil, em que pese o relativo sucesso das políticas anti-Aids, campanhas por vezes sofrem interferências religiosas, notadamente por parte da Igreja Católica.
Não cabe ao Estado interferir sobre as crenças religiosas dos cidadãos. Se a Igreja Católica, por exemplo, acredita que o sexo fora do casamento é pecado, deve explicar isso a seus fiéis e cobrar-lhes a abstinência. Não cabe ao poder público censurá-la.
Mas esse raciocínio também vale no sentido inverso: as igrejas, de não importa qual credo, não podem impor seus dogmas ao conjunto da população. Elas não devem interferir sobre as campanhas estatais de prevenção, que devem ser sempre respaldadas em trabalhos científicos.


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