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AIDS E RELIGIÃO
Não convém misturar religião
e prevenção à Aids. Para obter
resultados na contenção da epidemia
é necessário abordar o sexo de maneira direta e sem julgamentos morais. E a maioria das religiões propõe
um padrão de comportamento sexual que frequentemente conflita
com as recomendações dos especialistas de distribuir camisinhas e falar
francamente sobre sexo.
No ano passado, o mundo riu
quando o presidente do Quênia, Daniel Arap Moi, numa tentativa extravagante de conter a epidemia de
Aids, pediu à população do país que
se abstivesse de fazer sexo por um
período de dois anos. Arap Moi recorreu a esse expediente depois que
uma proposta do governo de importar 300 milhões de camisinhas foi
violentamente atacada pelas lideranças católica e muçulmana do país.
No caso dos EUA, foram também
convicções religiosas que levaram o
presidente Bush a redirecionar grande parte dos esforços -e das verbas- anti-Aids para programas que
incentivam a abstinência sexual entre
jovens em detrimento de iniciativas
que prevêem o estímulo ao uso de
preservativos e sua distribuição.
Mesmo no Brasil, em que pese o relativo sucesso das políticas anti-Aids,
campanhas por vezes sofrem interferências religiosas, notadamente por
parte da Igreja Católica.
Não cabe ao Estado interferir sobre
as crenças religiosas dos cidadãos.
Se a Igreja Católica, por exemplo,
acredita que o sexo fora do casamento é pecado, deve explicar isso a seus
fiéis e cobrar-lhes a abstinência. Não
cabe ao poder público censurá-la.
Mas esse raciocínio também vale
no sentido inverso: as igrejas, de não
importa qual credo, não podem impor seus dogmas ao conjunto da população. Elas não devem interferir
sobre as campanhas estatais de prevenção, que devem ser sempre respaldadas em trabalhos científicos.
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