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CLÓVIS ROSSI
Presidente piora sociólogo
SÃO PAULO - À medida que seu mandato se aproxima do fim, o presidente Fernando Henrique Cardoso se
torna um sociólogo pior.
Sua frase de anteontem sobre a pobreza, pronunciada na Associação
Comercial do Rio de Janeiro, é a prova mais contundente. Disse o presidente que a estabilidade (de preços)
trazida pelo Plano Real mudou a
maneira de ver a pobreza.
"Vivemos como se a desigualdade
tivesse sido descoberta agora. O que
acontece é que, sem inflação, com
mais democracia e liberdade, a desigualdade passou a ser intolerável."
Perdão, presidente, mas o senhor
mesmo é a prova viva do contrário.
Em 1975, durante a ditadura e durante o período inflacionário (não
tão feroz, mas inflação de todo modo), o senhor participou de um livro
chamado "São Paulo - Crescimento e
Pobreza".
Editado pela igreja comandada por
dom Paulo Evaristo Arns, era um grito de alerta sobre a pobreza e a desigualdade em uma São Paulo um
pouco mais habitável do que a de hoje, pelo menos para o cidadão comum (para os engajados politicamente, era o inferno, sim).
Portanto achar que o Plano Real
provocou a descoberta da pobreza é,
definitivamente, esquecer o que o senhor mesmo escreveu.
Sem contar o fato de que os oposicionistas ao regime militar sempre o
atacaram não só pela violência institucional que todo arbítrio representa
mas também por, suposta ou realmente, fazer aumentar as desigualdades. Portanto não foi preciso redemocratizar o país para descobrir a
"intolerável" desigualdade.
O que é de fato "intolerável" é a
permanência de níveis obscenos de
desigualdade mesmo depois de o senhor ter prometido, no discurso da
primeira posse, enfrentá-la como
prioridade um.
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