São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

O quase petista

BRASÍLIA - Se há alguém no PT, ou próximo a ele, falando com todas as letras tudo o que o bom e velho empresariado nacional quer ouvir, ele se chama João Sayad. Que nem petista é. É apenas secretário de Finanças de Marta Suplicy.
No debate de ontem na Folha, Paulo Rabello de Castro foi o que é, um legítimo liberal. Defendeu, por exemplo, um superávit primário de 5% ao ano (haja arrocho!). Luiz Carlos Mendonça de Barros, um tanto destemperado, não foi exatamente tucano. Preferiu assumir toda a sua dor-de-cotovelo com a derrota para a turma de Malan no governo.
E Sayad? Chutou o pau da barraca na maior elegância. Criticou a demonização do setor público, a supervalorização do déficit público, a mania do FMI de ensinar contabilidade aos outros ("como na Bolsa norte-americana") e a esperteza dos EUA, que pregam a abertura, mas exercitam o protecionismo.
Aproveitou e foi no fígado de Mendonção, ao considerar "frustrantes" as privatizações da era FHC. Renderam US$ 40 bilhões, que evaporaram com o déficit e os juros. Sem investimento, sem modernização, sem recapear uma mísera estrada.
De quebra, Sayad descreveu os profissionais das empresas privatizadas como "alunos de MBA" que usam "essa linguagem enfadonha dos economistas". Citou exemplos: "business center", "alavancagem", "wave". "Por que ninguém fala em investimento, megawatts, petróleo?"
Segundo ele, os argumentos do governo para dizer que a economia está ótima não colam: "Não tem fundamento falar em fundamento. Que fundamentos são esses que se abalam com meras pesquisas eleitorais?".
Lula morreria de inveja e o PT lavaria a alma, mas não teriam coragem de lhe levar a ficha de filiação. O tucano José Serra, velho amigo de Sayad, não permitiria.


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