São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Perguntas sem respostas

RIO DE JANEIRO - Nos áureos tempos do cinema novo, havia perplexidade entre as cultas gentes ligadas ao setor. Os mestres da câmara na mão e uma idéia na cabeça olimpicamente não entendiam como suas obras não alcançavam o grande público, que continuava preferindo filmes dos Trapalhões e de Mazzaropi.
Prêmios internacionais, artigos laudatórios nos melhores jornais do mundo, nada disso influía na bilheteria, no entusiasmo que o povão dedicava às chanchadas e no desdém às obras-primas aqui feitas pela nossa elite cultural e artística.
Pulando das chanchadas e do cinema novo para a prática eleitoral, vejo que os institutos de pesquisa continuam dando a políticos proscritos, como Maluf, Collor e outros, uma liderança nas intenções de voto.
É evidente que ainda falta muito para as eleições, que muita água rolará sob as pontes e que a briga de foice está apenas começando. Mas não deixa de ser um sintoma que precisa ser explicado: o chamado povão não leva a sério os prognósticos dos especialistas que davam Maluf, Collor, ACM e Barbalho como defuntos insepultos, definitivamente queimados perante o eleitorado.
É fácil concluir que a mentalidade desse povão é perversa na hora de preferir tanto uma chanchada dos Trapalhões como sobre um retorno de Maluf, este tão seriamente acusado de irregularidades, mas cuja imagem continua intacta diante de grande parcela do eleitorado.
Perversidade inata do povo ou generalizada falta de memória? Sinceramente, não sei. Constato apenas que, tal como no duelo entre o cinema novo e a chanchada, a justa medieval entre os bons e os maus da vida política obedece a uma razão que a razão desconhece.
Pelé escandalizou gregos e troianos quando disse, não faz muito, que o povo não sabia votar. Será isso mesmo? Ou os que pensam que sabem votar na realidade nunca entendem o que o povo quer?


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