|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Perguntas sem respostas
RIO DE JANEIRO - Nos áureos tempos do cinema novo, havia perplexidade
entre as cultas gentes ligadas ao setor.
Os mestres da câmara na mão e uma
idéia na cabeça olimpicamente não
entendiam como suas obras não alcançavam o grande público, que continuava preferindo filmes dos Trapalhões e de Mazzaropi.
Prêmios internacionais, artigos
laudatórios nos melhores jornais do
mundo, nada disso influía na bilheteria, no entusiasmo que o povão dedicava às chanchadas e no desdém às
obras-primas aqui feitas pela nossa
elite cultural e artística.
Pulando das chanchadas e do cinema novo para a prática eleitoral, vejo
que os institutos de pesquisa continuam dando a políticos proscritos,
como Maluf, Collor e outros, uma liderança nas intenções de voto.
É evidente que ainda falta muito
para as eleições, que muita água rolará sob as pontes e que a briga de foice está apenas começando. Mas não
deixa de ser um sintoma que precisa
ser explicado: o chamado povão não
leva a sério os prognósticos dos especialistas que davam Maluf, Collor,
ACM e Barbalho como defuntos insepultos, definitivamente queimados
perante o eleitorado.
É fácil concluir que a mentalidade
desse povão é perversa na hora de
preferir tanto uma chanchada dos
Trapalhões como sobre um retorno
de Maluf, este tão seriamente acusado de irregularidades, mas cuja imagem continua intacta diante de grande parcela do eleitorado.
Perversidade inata do povo ou generalizada falta de memória? Sinceramente, não sei. Constato apenas
que, tal como no duelo entre o cinema novo e a chanchada, a justa medieval entre os bons e os maus da vida política obedece a uma razão que
a razão desconhece.
Pelé escandalizou gregos e troianos
quando disse, não faz muito, que o
povo não sabia votar. Será isso mesmo? Ou os que pensam que sabem
votar na realidade nunca entendem
o que o povo quer?
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: O quase petista Próximo Texto: Otavio Frias Filho: Três coisas Índice
|