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CARLOS HEITOR CONY
Vidraças e estrelas
RIO DE JANEIRO - Mais uma vez lamento não ter o Paulo Coelho à mão,
aqui perto de mim, para consultá-lo
a respeito de sinais. Ele é mestre em
entender sinais, em interpretá-los, é
fundamental para um sujeito que
nem sabe interpretar os sinais de
trânsito: estaciono o carro onde não
posso e avanço sinais quando não há
guarda olhando. Para mim, o Paulo
é um oráculo.
O sinal que desejaria entender deve
significar alguma coisa importante. É
a mania que a turba tem, periodicamente, por isso ou por aquilo, de sair
por aí quebrando vidraças. Mudam
as causas, mas o gesto é o mesmo. Na
"Noite dos Cristais", os nazistas quebraram as vidraças das lojas que pertenciam aos judeus -um sinal do
que viria logo a seguir, com os campos de concentração e o extermínio.
Na Revolução Francesa, não havia
muita vidraça a ser quebrada, mas
quebraram a Bastilha, que era feita
de pedra, e não de vidro, mas funcionava como uma vitrine da repressão
de uma monarquia em coma.
Aqui, no Brasil, volta e meia se quebra uma vitrine comercial em nome
de alguma causa circunstancial. Por
vários motivos, havia vitrines preferenciais, como a da antiga Embaixada, hoje consulado, dos Estados Unidos aqui no Rio. Tropas em Santo
Domingo, invasão de Granada, golpe
na Guatemala, guerra na Coréia e no
Vietnã -não faltavam motivos, e
um carro desconhecido, na alta madrugada e em alta velocidade, passava por lá, atirava uma pedra e a vidraça se partia. O Tesouro Americano não chegou a falir, embora pagasse a conta dos vidraceiros que repunham uma nova vidraça.
Na semana passada, foram vidraças em Brasília, muitas e tentadoras,
que foram quebradas. É evidente que
a consciência moral e cívica de todos
nós repudia aquilo que, em momentos tais, é chamado de "vandalismo".
Mas, segundo o Paulo Coelho, tudo
é sinal neste mundo. Como as estrelas
do Olavo Bilac, há que entendê-los.
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