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CARLOS HEITOR CONY
Festival de bocejos
RIO DE JANEIRO - Sempre me perguntei se os desfiles militares são a melhor forma de comemorar um Dia
da Pátria. Não tenho nada contra os
dobrados, até os aprecio, não apenas
os de John-Philip Sousa, mas os nativos, que levavam o finado presidente
João Figueiredo às lágrimas.
Mas não vejo relação entre a pátria
e os regimentos marchando, os tanques, os canhões, os cavalos desfilando diante das autoridades ""civis e
eclesiásticas" -como dizem os locutores que transmitem a efeméride.
Aliás, o desfile merece mesmo este
nome: efeméride.
No último 7 de Setembro, tivemos
um festival de bocejos das autoridades e suas consortes. As lágrimas que
rolavam pela face do general Figueiredo foram substituídas pelos bocejos
presidenciais e governamentais. Vi as
fotos na primeira página dos jornais
e verifiquei que a festa cívica não
emocionou nossos governantes nem
seus apêndices domésticos.
Juscelino contava que, em Londres,
fora a um concerto no Covent Garden tendo ao lado o Assis Chateaubriand, que era embaixador do Brasil em Londres. JK tinha um jeito de
manter os olhos abertos mesmo
quando dormia. Era um mineiro. O
paraibano Assis Chateaubriand tinha outros truques, não esse.
Desabou num sono profundo.
Quando Collin Davis, o maestro, prolongou o intervalo entre dois movimentos da Sexta, a Pastoral que enleva e consola, o teatro ouviu um ronco
formidável, que fez tremer os lustres e
escandalizou a rainha.
FHC deve ter truques também. Não
os ensinou à esposa, que livremente
bocejou durante o desfile. Tenho pena é dos soldados, que passaram a semana lustrando as botas e ludibriando as armas. Para obter bom rendimento da tropa, os instrutores apelam para o pundonor de cada um:
""Vocês vão desfilar diante do casal
presidencial! É um orgulho e uma
honra!".
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