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CARLOS HEITOR CONY
O anjo exterminador
RIO DE JANEIRO - Que cada um de nós, individualmente ou em grupos
indignados, éticos, escolha os seus vilões preferenciais. Numa lista apressada, atual e incompleta, aí vão alguns nomes: Delúbio, Severino, Marcos Valério, Zé Dirceu, Roberto Jefferson, Paulo Maluf e prole, Zé Genoino,
Lula, os hierarcas do PT, o Duda
Mendonça -e por aí vai, ao gosto ou
desgosto de cada um.
Convoque-se o anjo exterminador,
aquele cara com asas e espada flamejante que, de acordo com o Apocalipse, volta e meia vem à Terra em missão salvadora para extirpar o mal,
degolar os corruptos e limpar a humanidade de indesejáveis. Pronto.
Estaríamos salvos? Salvos uma ova!
O mal misturado àquela massa de
barro de que fomos feitos não é tão
fácil de ser distinguido e muito menos extirpado. A mídia, muito mais
do que a opinião pública, declara-se
chocada, estarrecida, pasma, enojada com a corrupção revelada pelos
escândalos mais recentes. No entanto, apelando para a sovada imagem
do iceberg, o que vemos é apenas um
pedaço acima das águas.
A totalidade da montanha de gelo
está submersa.
Costumo ler, todos os anos, Ernesto
Hello, autor de um clássico, "A Fisionomia dos Santos": "O homem tem
uma espantosa facilidade em errar.
O erro entra nele por todas as aberturas que o põem em comunicação com
o mundo exterior. Respira-o por todos os poros: coração, espírito, corpo
-tudo nele é cruelmente, desoladamente corruptível".
Poderia ir mais longe, citando
Schopenhauer, os céticos gregos, o
Eclesiastes -que, na semana passada, citei por aí. Outro dia, em comentário na CBN a propósito de uma historiadora que datou a corrupção a
partir de dom Pedro 1º, lembrei a fábula bíblica, anterior de muitos séculos ao Brasil, e de amplidão bem mais
universal. Dois irmãos disputavam o
poder de suceder o pai. Jacó comprou
Esaú, pagando-lhe um prato de lentilhas, que, mesmo em moeda corrigida, devia valer menos do que qualquer mensalão.
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