|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
UMA HISTÓRIA QUE CONDENA
Os Estados Unidos sabiam, antecipadamente, da data do movimento
militar que depôs o presidente João
Goulart, em 1964? Essa polêmica
acaba de ser reativada por dois documentos. Primeiro, um livro de Ronaldo Costa Couto, baseado na divulgação do conteúdo de conversas telefônicas do então presidente Lyndon
Johnson, afirma categoricamente
que os EUA de tudo sabiam previamente. Como resposta, surgiram artigo do então embaixador no Brasil,
Lincoln Gordon, e transcrições de
mais dois telefonemas de Johnson,
tentando demonstrar o contrário.
Trata-se de uma falsa polêmica.
Importa pouco descobrir se os EUA
estavam a par da data exata de deflagração do movimento militar. O que
é relevante -e isso fica cristalino nas
transcrições liberadas pelo governo
norte-americano- é o fato de que
Washington apoiou a conspiração
que derrubou Goulart e estava "preparado para fazer tudo que fosse preciso" para contribuir nessa direção,
conforme o próprio Johnson.
Não foi a primeira nem a última intervenção dos EUA em assuntos internos de países latino-americanos.
Movimentos militares em diversos
países (Argentina, Chile, Uruguai,
Bolívia, El Salvador, Guatemala, para
não esgotar a lista) contaram com
apoio, incentivo e, não raro, financiamento norte-americano, o que, hoje,
está tão comprovado que, recentemente, o presidente Bill Clinton pediu desculpas aos guatemaltecos pelo envolvimento dos EUA no golpe de
1954 naquele país.
Não se trata de uma constatação de
mero sabor histórico. Os EUA, até
mais que antes, são uma potência tão
hegemônica que seus desígnios se
tornam incontrastáveis, o que é sempre um risco, não só para a soberania
das demais nações de sua área de influência, como para a própria democracia. Em nome dela, é bom lembrar, instalaram-se na América Latina regimes que pisotearam todas as
regras democráticas.
Texto Anterior: Editorial: CASUÍSMO AUTOMOTIVO Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: O poder, e depois Índice
|