São Paulo, Sábado, 11 de Setembro de 1999
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UMA HISTÓRIA QUE CONDENA

Os Estados Unidos sabiam, antecipadamente, da data do movimento militar que depôs o presidente João Goulart, em 1964? Essa polêmica acaba de ser reativada por dois documentos. Primeiro, um livro de Ronaldo Costa Couto, baseado na divulgação do conteúdo de conversas telefônicas do então presidente Lyndon Johnson, afirma categoricamente que os EUA de tudo sabiam previamente. Como resposta, surgiram artigo do então embaixador no Brasil, Lincoln Gordon, e transcrições de mais dois telefonemas de Johnson, tentando demonstrar o contrário.
Trata-se de uma falsa polêmica. Importa pouco descobrir se os EUA estavam a par da data exata de deflagração do movimento militar. O que é relevante -e isso fica cristalino nas transcrições liberadas pelo governo norte-americano- é o fato de que Washington apoiou a conspiração que derrubou Goulart e estava "preparado para fazer tudo que fosse preciso" para contribuir nessa direção, conforme o próprio Johnson.
Não foi a primeira nem a última intervenção dos EUA em assuntos internos de países latino-americanos. Movimentos militares em diversos países (Argentina, Chile, Uruguai, Bolívia, El Salvador, Guatemala, para não esgotar a lista) contaram com apoio, incentivo e, não raro, financiamento norte-americano, o que, hoje, está tão comprovado que, recentemente, o presidente Bill Clinton pediu desculpas aos guatemaltecos pelo envolvimento dos EUA no golpe de 1954 naquele país.
Não se trata de uma constatação de mero sabor histórico. Os EUA, até mais que antes, são uma potência tão hegemônica que seus desígnios se tornam incontrastáveis, o que é sempre um risco, não só para a soberania das demais nações de sua área de influência, como para a própria democracia. Em nome dela, é bom lembrar, instalaram-se na América Latina regimes que pisotearam todas as regras democráticas.


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