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O poder, e depois
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Gilberto Dimenstein voltou ontem de Brasília. Cruzou no aeroporto com Clóvis Carvalho, o ex-ministro do Desenvolvimento. Foi patético, relata Gilberto.
O cidadão que, ao menos no primeiro mandato de Fernando Henrique
Cardoso, era tido e tratado como primeiro-ministro estava absolutamente
só. Sem assessores, aspones, bajuladores, obrigado a carregar a própria mala. Nem sequer encontrou interlocutores, exceto um ou dois passageiros,
com os quais foi obrigado a compartilhar a fila dos mortais comuns.
É um precioso instantâneo do poder
e, acima de tudo, deveria servir de lição de vida para os poderosos de hoje,
tão cheios de si, tão seguros de que serão poderosos para todo o sempre. É
infinitamente pequena a distância entre as pompas do poder e o despencar
no absoluto anonimato.
O problema é que 99% dos poderosos só descobrem essa elementar realidade quando é vítima dela. Antes,
comportam-se como Clóvis Carvalho
em suas viagens de carona em aviões
da FAB para a ilha de Fernando de
Noronha.
Apanhados em flagrante, primeiro
pagam por uma das muitas viagens,
mas, depois, dão uma solene banana
para o respeito a códigos mínimos de
conduta e demonstram até orgulho de
se comportarem como cidadãos acima
dos demais.
Talvez uma boa maneira de educar
devidamente o homem público fosse
submetê-lo, durante e não depois de
deixar o cargo, a cenas como as enfrentadas pelo agora destronado Clóvis Carvalho. Ou seja, fazê-lo passar
pelas dificuldades (e olhe que fila de
embarque não chega a ser o maior dos
tormentos do Brasil) que os cidadãos
comuns enfrentam todo santo dia.
Alguns talvez não sobrevivessem à
experiência. Mas os que conseguissem
seriam com certeza um pouco mais
humildes no gozo das pompas do poder. Com um pouco de sorte, seriam
também mais sensíveis às dificuldades
dos governados.
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