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Sigaud, Hélder e Marcelo
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
Brasília - A morte recente de dom
Geraldo Sigaud e dom Hélder Câmara
remete para um tempo em que a ação
social da Igreja Católica no Brasil era
marcada por traços tão distintos dos
atuais que parece ter ele ocorrido há
muito mais do que meros 40 anos.
No início da década de 60, a igreja se
dividia entre conservadores e progressistas, alguns, como dom Sigaud e seu
arquiinimigo dom Pedro Cassaldáliga, extremados. Outros, como dom
Hélder, embora tenha virado símbolo
dos progressistas, nem tanto.
De qualquer modo, o debate interno,
pelo menos do ponto de vista do leigo
do lado de fora, se dava em torno de
questões políticas e teológicas.
A abordagem dos fiéis pelas duas
correntes se executava por meio de argumentos religiosos ou sociais.
Os tempos mudaram muito. O conflito ideológico, não só na igreja, se
amenizou. Esquerda e direita convergiram para o centro. A concorrência
das igrejas pentecostais ameaça a hegemonia absoluta do catolicismo.
Parte da reação a essas mudanças
foi a popularização do movimento carismático, do qual o padre Marcelo
Rossi é o grande expoente.
Seu sucesso, de mercado pelo menos,
é muito expressivo. Mas o efeito de sua
pregação aeróbica-musical tem sido
objeto de muitos reparos.
O problema, claro, não está na utilização da música para atrair e manter
fiéis. A igreja tem se valido dela há séculos, com resultados notáveis, tanto
religiosos quanto artísticos.
A questão é que a mensagem de
Marcelo é esteticamente desprezível,
socialmente omissa e espiritualmente
vazia. O padre é um pop-star e só.
A tentação de aproveitar a penetração popular de artistas como Ratinho,
Xuxa e Tiazinha não se exerce apenas
sobre a igreja. O governo FHC também parece convencido de que basta
mandar ministros aos programas dessas criaturas para ficar popular.
Igreja e governo, entretanto, são instituições diferentes do show-business.
Seu êxito efetivo depende menos da
imagem do que do conteúdo.
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