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São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Gabeira

RIO DE JANEIRO - O anunciado desligamento do deputado federal Fernando Gabeira do PT não deve ser visto como uma dissidência, muito menos como uma rebeldia. Se há dissidência, o dissidente é o partido, e não o deputado, que, por suas características especiais, é uma espécie de patinho feio na política nacional, sendo ele, na verdade, um cisne.
Como se sabe, a política é definida como a arte (ou o jeitinho) de um grupo, um partido ou um cidadão chegar ao poder. Sapos são engolidos e vale tudo para conquistar o objetivo maior da política, que é o poder, uma vez que somente o poder tem condições de operar a sociedade, a economia e a administração pública para obter as metas de cada partido ou indivíduo.
Fernando Gabeira está fora dessa conceituação tradicional. Sua carreira não se direciona para o poder. Desde cedo, lutou abertamente pelas idéias que julgava certas, a fim de criar uma sociedade mais justa e solidária.
Com o retorno do país à prática democrática, ele abraçou com o mesmo entusiasmo a defesa ambiental do mundo em que, bons e maus, vivemos. Seu partido inicial era pequeno demais, funcionava como um ramal auxiliar, mas quase inofensivo, na grande malha da problemática nacional. Filiou-se ao PT porque o partido lhe oferecia a garantia de uma luta pelo ambiente, que na realidade é um iceberg ideológico que tem, submersos, dois terços de outras reivindicações paralelas, necessárias e complementares de uma sociedade realmente nova, de um mundo novo.
Sua atitude não deve ser confundida com a de outros dissidentes do mesmo PT, que cobram pontualmente a fidelidade compacta ao discurso histórico do partido.
Nesse particular, ele nunca foi um petista de carteirinha. Acreditou que o partido fosse o instrumento legal e democrático para continuar a luta que não pretende abandonar. Quem fugiu da raia, quem traiu a causa não foi ele. Foi o partido.


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