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CARLOS HEITOR CONY
Gabeira
RIO DE JANEIRO - O anunciado desligamento do deputado federal Fernando Gabeira do PT não deve ser
visto como uma dissidência, muito
menos como uma rebeldia. Se há dissidência, o dissidente é o partido, e
não o deputado, que, por suas características especiais, é uma espécie de
patinho feio na política nacional,
sendo ele, na verdade, um cisne.
Como se sabe, a política é definida
como a arte (ou o jeitinho) de um
grupo, um partido ou um cidadão
chegar ao poder. Sapos são engolidos
e vale tudo para conquistar o objetivo
maior da política, que é o poder, uma
vez que somente o poder tem condições de operar a sociedade, a economia e a administração pública para
obter as metas de cada partido ou indivíduo.
Fernando Gabeira está fora dessa
conceituação tradicional. Sua carreira não se direciona para o poder.
Desde cedo, lutou abertamente pelas
idéias que julgava certas, a fim de
criar uma sociedade mais justa e solidária.
Com o retorno do país à prática democrática, ele abraçou com o mesmo
entusiasmo a defesa ambiental do
mundo em que, bons e maus, vivemos. Seu partido inicial era pequeno
demais, funcionava como um ramal
auxiliar, mas quase inofensivo, na
grande malha da problemática nacional. Filiou-se ao PT porque o partido lhe oferecia a garantia de uma
luta pelo ambiente, que na realidade
é um iceberg ideológico que tem, submersos, dois terços de outras reivindicações paralelas, necessárias e complementares de uma sociedade realmente nova, de um mundo novo.
Sua atitude não deve ser confundida com a de outros dissidentes do
mesmo PT, que cobram pontualmente a fidelidade compacta ao discurso
histórico do partido.
Nesse particular, ele nunca foi um
petista de carteirinha. Acreditou que
o partido fosse o instrumento legal e
democrático para continuar a luta
que não pretende abandonar. Quem
fugiu da raia, quem traiu a causa
não foi ele. Foi o partido.
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