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São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2003

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NA MIRA DO TERROR

A maioria dos analistas concorda que o ataque terrorista ocorrido no fim de semana em Riad, na Arábia Saudita, tem forte componente "doméstico". Diferentemente de outras ações da Al Qaeda, que visaram principalmente a alvos norte-americanos, israelenses e ocidentais, as vítimas, desta vez, são majoritariamente árabes. Muitos vêem no atentado um episódio de uma campanha para a desestabilização da casa real saudita.
Com efeito, Osama bin Laden e seus seguidores vêm já há tempos pressionando os governantes do país. No início, o motivo alegado era o fato de Riad ter acolhido forças norte-americanas no reino. As tropas estrangeiras já saíram, mas os conflitos prosseguem.
A situação dos príncipes sauditas é, na realidade, difícil. Eles estão aprisionados entre posições antagônicas das quais dificilmente podem abrir mão. De um lado, é-lhes praticamente impossível abandonar o wahabismo, a interpretação rígida do islamismo sunita que é indissociável da própria identidade nacional saudita. E o wahabismo, é bom frisar, guarda muitas semelhanças com as idéias de Bin Laden e do Taleban a respeito de como deve ser um Estado islâmico. Foi a recusa dos príncipes sauditas em afastar-se do wahabismo -que inclui, entre outras coisas, o financiamento às escolas extremistas onde se formam os membros da Al Qaeda- que afastou Riad de Washington após o 11 de Setembro.
No outro pólo, o governo saudita não quis ou não pôde desfazer sua aliança com os EUA, o que lhe valeu a "declaração de guerra" por parte de Bin Laden. Não será surpresa se outros atentados se seguirem. Uma futura queda da casa real não é uma hipótese descartável. É certo, porém, que os EUA não assistiriam passivamente à ascensão de um poder fundamentalista apoiado pela Al Qaeda no país com as maiores reservas de petróleo do globo. A evolução do quadro na Arábia Saudita, dado o seu caráter estratégico deve, portanto, ser acompanhada com preocupação.


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