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ELIANE CANTANHÊDE
As trapalhadas
PRETÓRIA - A semana passada não
foi especialmente feliz para o governo, apesar da viagem à África.
Primeiro, o presidente desautorizou o ministro da Fazenda, e o ministro da Fazenda desautorizou o presidente. Um, dizendo que não havia
acordo com o FMI antes de dezembro. O outro, anunciando o acordo.
Segundo, aquela história escabrosa
do Berzoini. Onde já se viu suspender
benefícios de quem tem mais de 90
anos, seja por qual motivo for?!
Terceiro, Lula se empolgando com
o próprio improviso -como sempre- e deixando os preconceitos da
alma falarem mais alto do que o seu
cargo institucional. Para Lula, a África é suja e feia. Milhões de pessoas
acham o mesmo, mas presidentes
não acham e saem dizendo.
Bem, teimosia pouca é bobagem.
Apesar de tudo e de todos, Lula não
tem a menor intenção de abdicar de
seus improvisos, que, na opinião dos
seus íntimos, "dão certo em 99% das
vezes". Mas o problema é o 1%!
Segundo eles, o político Lula se fez
com megafones em portas de fábrica.
Não leva jeito para ler discursos escritos por assessores que passaram por
cátedras, não por palanques. De fato,
o Lula que lê é cabisbaixo e monocórdico. E o Lula que improvisa sacode
platéias com suas metáforas: laranjas, morangos, carros usados, só para
citar as mais fresquinhas.
Ocorre que Lula não é mais candidato nem líder sindical. É presidente
da República e não tem o direito de
sair de um churrasco falando besteiras em solo alheio que constrangem o
Brasil e humilham parceiros.
Passados sete dias e cinco países,
Lula reclamou intramuros das perguntas de jornalistas nas rápidas entrevistas que concedia aqui. Reclamou de barriga cheia. Cada um na
sua, presidente. Jornalistas perguntam, em geral, o que milhares querem saber. Presidentes respondem,
porque os milhares têm o direito de
saber. O problema não são as perguntas. São os improvisos em discursos, além das bobagens do próprio
governo.
PS - Por que ainda estou aqui? Simples. A África é prioritária, mas os
vôos são poucos e vivem lotados.
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