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São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

As trapalhadas

PRETÓRIA - A semana passada não foi especialmente feliz para o governo, apesar da viagem à África.
Primeiro, o presidente desautorizou o ministro da Fazenda, e o ministro da Fazenda desautorizou o presidente. Um, dizendo que não havia acordo com o FMI antes de dezembro. O outro, anunciando o acordo.
Segundo, aquela história escabrosa do Berzoini. Onde já se viu suspender benefícios de quem tem mais de 90 anos, seja por qual motivo for?!
Terceiro, Lula se empolgando com o próprio improviso -como sempre- e deixando os preconceitos da alma falarem mais alto do que o seu cargo institucional. Para Lula, a África é suja e feia. Milhões de pessoas acham o mesmo, mas presidentes não acham e saem dizendo.
Bem, teimosia pouca é bobagem. Apesar de tudo e de todos, Lula não tem a menor intenção de abdicar de seus improvisos, que, na opinião dos seus íntimos, "dão certo em 99% das vezes". Mas o problema é o 1%!
Segundo eles, o político Lula se fez com megafones em portas de fábrica. Não leva jeito para ler discursos escritos por assessores que passaram por cátedras, não por palanques. De fato, o Lula que lê é cabisbaixo e monocórdico. E o Lula que improvisa sacode platéias com suas metáforas: laranjas, morangos, carros usados, só para citar as mais fresquinhas.
Ocorre que Lula não é mais candidato nem líder sindical. É presidente da República e não tem o direito de sair de um churrasco falando besteiras em solo alheio que constrangem o Brasil e humilham parceiros.
Passados sete dias e cinco países, Lula reclamou intramuros das perguntas de jornalistas nas rápidas entrevistas que concedia aqui. Reclamou de barriga cheia. Cada um na sua, presidente. Jornalistas perguntam, em geral, o que milhares querem saber. Presidentes respondem, porque os milhares têm o direito de saber. O problema não são as perguntas. São os improvisos em discursos, além das bobagens do próprio governo.
PS - Por que ainda estou aqui? Simples. A África é prioritária, mas os vôos são poucos e vivem lotados.


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