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CARLOS HEITOR CONY
Doação e ação
RIO DE JANEIRO - O Estado é um
funcionário da sociedade, pago pelos
cidadãos. A soma dos impostos, federais, estaduais e municipais, equivale
em alguns casos a cinco ou seis meses
de trabalho. Esse montão de dinheiro
deveria ser administrado correta e
honestamente, de forma contínua e
racional.
O governo francês, impressionado
com a morte de idosos no último verão europeu, pediu a todos os seus
empregados que dessem um dia de
trabalho gratuito para a formação de
um fundo destinado a melhorar a vida dos velhinhos.
Aqui, no Brasil, tenta-se transferir o
combate à fome para a sociedade,
apelando para o assistencialismo
medieval dos montepios, da caridade
cristã ou da solidariedade humanista.
O espetáculo da semana passada,
quando idosos tiveram de sair de
suas casas, de seus leitos e cadeiras de
rodas para se recadastrarem nos tortuosos guichês do INSS, é um exemplo da distorção do Estado.
Ele é mantido pelo dinheiro que todos pagamos para dispormos de uma
estrutura viável de serviços básicos,
como a saúde, a educação, a segurança, a assistência social. Bem administrado, o produto da gigantesca
arrecadação poderia custear decentemente as necessidades públicas.
Grande parte desse dinheiro some pelo ralo dos juros que pagamos aos investimentos especulativos, dívidas
mal assumidas, elevadas taxas de
corrupção e desperdício.
E o combate à fome, prioridade elementar de qualquer sociedade, delegada ao Estado, volta para a própria
sociedade, travestida de madre Teresa de Calcutá tamanho família, de
colossal irmã Paula dando um prato
de sopa aos famintos.
Respeitamos pessoas como Frei Betto e Oded Grajew, que estão mergulhados até os cotovelos no Fome Zero.
Não fazem parte do oportunismo que
criou o programa. A luta deles é antiga na sinceridade e no esforço de melhorar a sociedade. Mas não é por aí
que o governo irá acabar com o problema.
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