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CLÓVIS ROSSI
Os bancos e o óbvio tardio
SÃO PAULO - Quando assumiu, em 1997, a presidência da Febraban (Federação Brasileira das Associações de
Bancos), Roberto Setúbal, diretor-presidente do Banco Itaú, ensaiou
um movimento alertando para o risco de desnacionalização do setor financeiro no Brasil.
A tese foi logo engavetada, talvez
porque fosse politicamente incorreto
defender a proteção para um setor
quando o empresariado era maciçamente a favor da abertura ampla, geral e irrestrita da economia.
O tempo mostrou que Roberto Setúbal estava certo na sua teoria de
que os bancos nacionais têm mais
compromissos com o país do que os
estrangeiros. Leia-se Benjamin Steinbruch, na Folha de ontem:
1 - "Os números indicam que esses
bancos (os estrangeiros) praticamente se retiraram do mercado de títulos
públicos no momento em que o BC
mais precisava colocar seus papéis
para rolar a dívida interna. De julho
a setembro, os bancos nacionais compraram mais de 80% dos títulos públicos vendidos".
2 - "Além de fugir de títulos públicos, por medo de calote, segundo dados publicados pelo jornal "Valor", alguns bancos venderam ativos num
total equivalente a R$ 17 bilhões neste ano. (...) Ao vender esses ativos e
repatriar o capital, ajudaram a aumentar a demanda e a alta do dólar.
Ao mesmo tempo, seguraram o crédito. A expansão de seus empréstimos
foi de apenas 6,27% em 12 meses até
setembro, enquanto os bancos nacionais ampliavam a oferta em 17,55%".
Sei muito bem -e Steinbruch também enfatiza o ponto- que os bancos nacionais não são mais nacionalistas por bom-mocismo, mas por interesse e pelos gordos lucros.
Seja como for, parece evidente que
faz diferença ter ou não no país o
controle das decisões econômicas vitais. É óbvio, mas às vezes é preciso
repetir obviedades. Pena que talvez
seja tarde demais.
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