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TENDÊNCIAS/DEBATES
Fome Zero
FREI BETTO
O projeto Fome Zero, a ser implantado pelo governo Lula, pretende reduzir significativamente a exclusão social que faz do Brasil um dos
três países mais injustos do mundo.
Não tem cabimento centrar o debate
em cartão magnético, cupom ou dinheiro. É discutir a qualidade da água enquanto a casa pega fogo. O importante é
garantir alimento a quem vive condenado à subnutrição, e fazê-lo de modo a
evitar o assistencialismo, o paternalismo e a dependência do beneficiado ao
poder público.
Ao debater os meios, e não o fim, corre-se o risco de perder de vista a meta do
projeto. É a clareza do objetivo que permitirá uma escolha criteriosa dos
meios, inclusive levando em conta diferenças e peculiaridades regionais.
O Fome Zero não pretende reinventar
a roda. Existem inúmeras experiências
bem-sucedidas de combate à fome no
país. É com elas que devemos aprender.
Por isso a coordenação do projeto estabeleceu um calendário para conhecer
quem faz, o que faz, como faz e que erros e acertos foram cometidos.
Quatro segmentos da sociedade estão
convidados para, separadamente, apresentar ao projeto o trabalho que desenvolvem: as denominações religiosas
(que terão seminário amanhã, em São
Paulo), a iniciativa privada (que fará seu
seminário na mesma data), as ONGs e
os órgãos governamentais. Os dois últimos terão seus seminários após a posse
do novo presidente da República.
O Fome Zero valoriza a autonomia de
todas as instituições empenhadas na seguridade alimentar, com exceção das
que estão vinculadas ao governo federal. Estas deverão passar por uma avaliação e uma renovação, já que o caráter
do projeto difere qualitativamente das
iniciativas adotadas no governo FHC. O
novo projeto permeará todos os ministérios e as empresas públicas, de modo a
mobilizar o conjunto da máquina federal, incluindo as Forças Armadas, no
combate à fome.
Quanto às demais instituições, como
as ONGs e os órgãos públicos das esferas estaduais e municipais, o princípio
norteador é evitar dois riscos: a cooptação pela estrutura federal, transformando-as em meras "correias de transmissão", e a marginalização de iniciativas
que não coincidem com os princípios
do Fome Zero. O desafio é promover
uma sinergia, um somatório de esforços
rumo à missão comum.
O Fome Zero não pretende reinventar a roda. Existem inúmeras experiências bem-sucedidas de combate à fome no país
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Só quem não conhece o projeto Fome
Zero pode julgá-lo assistencialista.
Além de combinar 25 diferentes projetos de políticas públicas, do Bolsa-Escola à reforma agrária, há o propósito de
promover a educação cidadã, saciando
assim não só a fome de pão, mas também a de beleza.
Os beneficiados deverão assegurar a
presença dos filhos na escola e frequentar cursos profissionalizantes, tornando-se pessoas produtivas, capazes de
obter renda a partir de seu próprio esforço. Mas é dever do governo garantir-lhes os recursos, como o crédito agrícola, para que possam dar o passo decisivo
da exclusão à inclusão social.
Pessoas dispostas a trabalhar no projeto e a doar recursos terão sinalizados
os caminhos a percorrer tão logo o novo
governo assuma. Por enquanto, é preparar a sua implantação e criar vínculos
com os parceiros institucionais.
Para quem deseja, ansiosamente, já
contribuir para aplacar o drama de tantos famintos, sugerimos que participe
da campanha Natal Sem Fome.
No Ano Novo, a meta será um Brasil
sem fome.
Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto,
58, frade dominicano, escritor e assessor de movimentos pastorais e sociais, é coordenador de
Mobilização Social do projeto Fome Zero. É autor
de, entre outras obras, "Alfabetto - Autobiografia Escolar" (ed. Ática).
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