São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2005

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CLÓVIS ROSSI

Interesse nacional, lembra-se?

SÃO PAULO - Veja, caro leitor, que notícia curiosa saiu ontem nos "on line" internacionais da vida: a Rússia vai limitar a participação de companhias estrangeiras nas licitações para a exploração de recursos naturais (petróleo e minerais).
Só companhias com ao menos 51% do capital em mãos russas estarão autorizadas, no que é "a mais explícita e abrangente manifestação de uma política nacionalista sob a presidência de Vladimir Putin", segundo o britânico "Financial Times".
Como você pode estar distraído e, ao ler Rússia, pode pensar em União Soviética, em comunismo (oh, horror), um brevíssimo ajuda-memória: não, a Rússia não é mais comunista; a Rússia fez marcha batida para o capitalismo, o mais desbragado, a ponto de gerar novos ricos em quantidade suficiente para pôr dinheiro até no Corinthians Paulista (novo rico tem, em geral, péssimo gosto).
Não se trata, pois, de uma recaída nem há notícias de uma marcha de agradecimento ao túmulo de Lênin. A Folha fez um esforço de reportagem mas foi incapaz de apurar se o ministro de Recursos Naturais (repartição responsável pela decisão) se chama Karl Lessa.
A coisa, no fundo, é bem mais simples: segundo fonte do ministério, citada pelo "FT", trata-se tão simplesmente de "defender os interesses nacionais". Sei que essa expressão não se usa mais no Brasil, mas continua existindo algures.
Ah, a propósito: a Rússia é também aquele mesmíssimo país que foi à moratória, há quase seis anos, para horror dos que acham que moratória é pecado mortal que condena os que o praticam ao inferno para todo o sempre.
Bom, hoje, a Rússia, a mesmíssima Rússia da moratória e da "defesa do interesse nacional", é "investment grade", a melhor cotação para pôr dinheiro no país. Enquanto isso, em certo país tropical...


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