São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2005

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MARTA SALOMON

No prelo, o silêncio

BRASÍLIA - Os adversários da proposta de autonomia do Banco Central já comemoram reservadamente uma vitória simbólica.
A mensagem que o presidente Lula encaminha ao Congresso na terça-feira não trará uma única palavra sobre a idéia de blindar mexidas nas taxas de juros de ingerências políticas, defendida com certa veemência pelo ministro Antonio Palocci Filho.
A mensagem estava a caminho da gráfica ontem. É uma formalidade que marca o início de cada ano de trabalho legislativo. No documento, o presidente faz um balanço do ano anterior e anuncia planos para o período de votações que se inicia.
Seria o lugar ideal para Lula manifestar compromisso com a proposta. Se houvesse tal compromisso.
Em dezembro, a Fazenda fez o movimento mais contundente em dois anos em favor da autonomia do BC. Com outras palavras, documento do ministério escreveu que a queda dos juros dependeria de uma maior liberdade para diretores do banco, sem risco de demissão, lidarem com a política monetária. O texto chamava isso de "segurança institucional".
Três meses antes, era um aperto maior nas contas públicas que garantiria a queda dos juros, segundo a equipe econômica. O governo cortou mais gastos. Mas, desde então, as taxas não pararam de subir, apesar da contrariedade do presidente.
Não fazia muito tempo, também a pedido da Fazenda, Lula vetara artigo aprovado pelo Congresso que exigia uma estimativa prévia na lei orçamentária do custo para os cofres públicos do combate à inflação. Dizia que tornar explícitas expectativas futuras de taxas de juros poderia abalar a estabilidade econômica.
A autonomia do Banco Central já existente na prática e a falta de transparência que cerca decisões sobre juros poderiam ajudar a entender o silêncio da mensagem de Lula. Se não bastasse a percepção pelo governo de que seriam enormes as chances de a proposta defendida por Palocci se transformar num embate desnecessário. Venceu o pragmatismo.


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