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MARTA SALOMON
No prelo, o silêncio
BRASÍLIA - Os adversários da proposta de autonomia do Banco Central já
comemoram reservadamente uma
vitória simbólica.
A mensagem que o presidente Lula
encaminha ao Congresso na terça-feira não trará uma única palavra
sobre a idéia de blindar mexidas nas
taxas de juros de ingerências políticas, defendida com certa veemência
pelo ministro Antonio Palocci Filho.
A mensagem estava a caminho da
gráfica ontem. É uma formalidade
que marca o início de cada ano de
trabalho legislativo. No documento, o
presidente faz um balanço do ano
anterior e anuncia planos para o período de votações que se inicia.
Seria o lugar ideal para Lula manifestar compromisso com a proposta.
Se houvesse tal compromisso.
Em dezembro, a Fazenda fez o movimento mais contundente em dois
anos em favor da autonomia do BC.
Com outras palavras, documento do
ministério escreveu que a queda dos
juros dependeria de uma maior liberdade para diretores do banco, sem
risco de demissão, lidarem com a política monetária. O texto chamava isso de "segurança institucional".
Três meses antes, era um aperto
maior nas contas públicas que garantiria a queda dos juros, segundo a
equipe econômica. O governo cortou
mais gastos. Mas, desde então, as taxas não pararam de subir, apesar da
contrariedade do presidente.
Não fazia muito tempo, também a
pedido da Fazenda, Lula vetara artigo aprovado pelo Congresso que exigia uma estimativa prévia na lei orçamentária do custo para os cofres
públicos do combate à inflação. Dizia
que tornar explícitas expectativas futuras de taxas de juros poderia abalar a estabilidade econômica.
A autonomia do Banco Central já
existente na prática e a falta de transparência que cerca decisões sobre juros poderiam ajudar a entender o silêncio da mensagem de Lula. Se não
bastasse a percepção pelo governo de
que seriam enormes as chances de a
proposta defendida por Palocci se
transformar num embate desnecessário. Venceu o pragmatismo.
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