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SERGIO COSTA
20% para lá, 20% para cá
RIO DE JANEIRO - Com o "mensalão", tornou-se pública a mágica que
transforma dinheiro de publicidade
oficial em caixa dois, via promiscuidade com certo tipo de agência. Como está todo mundo enjoado de pizza, enojado disso tudo e hoje é domingo, vale contar um caso.
Cético de carteirinha, quase 70
anos à época, o jornalista Jorge de
Miranda Jordão surpreendeu ao se
encher de esperança com a eleição de
Lula. Amigo de Ricardo Kotscho e
Frei Betto, botou fé no governo e justificava.
No início da gestão Luiza Erundina
na Prefeitura de São Paulo, ele, então
diretor do "Diário Popular", fora
procurado por um emissário do PT
para publicar uns editais.
Conversa dali, pechincha para lá,
chegaram a um valor considerado
justo. Martelo quase batido, o emissário fez uma última pergunta: "Mas
a agência tem direito a 20% desse valor, não é?".
Miranda, malandro velho, imaginou o resto da conversa. "Tem sim. É
a praxe do mercado", respondeu.
"Pois vamos publicar os editais diretamente, sem intermediação da
agência. E eu queria os 20%..."
O diretor de Redação concluiu o
mau pensamento que tivera: "Eu sabia!".
"Queria os 20% para o povo de São
Paulo", concluiu o interlocutor.
Miranda riu. Nunca tinha visto alguém pedir desconto e comissão para
desonerar o contribuinte.
Assim, quando o PT assumiu a Presidência, largou o ceticismo de lado.
Durou pouco. Kotscho deixou o governo, Betto também, e ele voltou a
acreditar somente nas libações que
tanto aprecia entre a noite de Copacabana e o seu sítio na serra.
Já tinha enxergado onde os tais
20% -hoje superfaturados- poderiam parar.
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