São Paulo, domingo, 12 de março de 2006

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SERGIO COSTA

20% para lá, 20% para cá

RIO DE JANEIRO - Com o "mensalão", tornou-se pública a mágica que transforma dinheiro de publicidade oficial em caixa dois, via promiscuidade com certo tipo de agência. Como está todo mundo enjoado de pizza, enojado disso tudo e hoje é domingo, vale contar um caso.
Cético de carteirinha, quase 70 anos à época, o jornalista Jorge de Miranda Jordão surpreendeu ao se encher de esperança com a eleição de Lula. Amigo de Ricardo Kotscho e Frei Betto, botou fé no governo e justificava.
No início da gestão Luiza Erundina na Prefeitura de São Paulo, ele, então diretor do "Diário Popular", fora procurado por um emissário do PT para publicar uns editais.
Conversa dali, pechincha para lá, chegaram a um valor considerado justo. Martelo quase batido, o emissário fez uma última pergunta: "Mas a agência tem direito a 20% desse valor, não é?".
Miranda, malandro velho, imaginou o resto da conversa. "Tem sim. É a praxe do mercado", respondeu.
"Pois vamos publicar os editais diretamente, sem intermediação da agência. E eu queria os 20%..."
O diretor de Redação concluiu o mau pensamento que tivera: "Eu sabia!".
"Queria os 20% para o povo de São Paulo", concluiu o interlocutor.
Miranda riu. Nunca tinha visto alguém pedir desconto e comissão para desonerar o contribuinte.
Assim, quando o PT assumiu a Presidência, largou o ceticismo de lado. Durou pouco. Kotscho deixou o governo, Betto também, e ele voltou a acreditar somente nas libações que tanto aprecia entre a noite de Copacabana e o seu sítio na serra.
Já tinha enxergado onde os tais 20% -hoje superfaturados- poderiam parar.


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