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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Bom senso mais
do que nunca!
O vice-presidente dos Estados
Unidos, Richard B. Cheney, disse
que sérias conseqüências poderão advir para o Irã caso aquele país insista
em acelerar o seu plano de pesquisa na
área nuclear. Ao mesmo tempo, o presidente George W. Bush ofereceu à Índia amplas facilidades para aquisição
de tecnologia avançada nesse terreno.
Como explicar a estratégia de "dois
pesos, duas medidas"? É verdade que
o Irã representa um grande perigo ao
querer avançar no enriquecimento de
urânio, o que, no futuro, poderá viabilizar a bomba atômica. Por isso, a
Agência Internacional de Energia
Atômica (AIEA) aprovou, na última
quarta-feira, o envio do caso ao Conselho de Segurança da ONU, que, após
avaliação, poderá impor sanções econômicas e militares ao Irã. Afinal,
aquele país não assinou o Tratado de
Não-Proliferação Nuclear, o que se
choca com o compromisso de transparência dos países que fazem pesquisas nucleares.
Ocorre que a Índia também não assinou o referido tratado, com o agravante de possuir bombas atômicas
testadas e aprovadas desde 1974. Ao
contrariar a transparência demandada por aquela agência, tecnicamente, a
Índia não poderia ser admitida no clube das potências nucleares.
Quem não gostou da "generosidade" de George W. Bush foi a China,
que também possui bombas atômicas
permanentemente preparadas para
entrar em ação. Aliás, o país acaba de
aprovar um aumento de 15% no seu
orçamento de defesa, o que deve ter
precipitado a oferta de Bush.
Em outras palavras, os Estados Unidos e demais nações desenvolvidas
querem neutralizar a hegemonia bélica da China, da Índia e do Paquistão,
que possuem perigosos artefatos nucleares.
O que faz sentido para a política de
segurança na Ásia tornou-se um verdadeiro convite ao Irã. Com isso, os
iranianos passaram a acelerar ainda
mais o enriquecimento de urânio e a
usar o petróleo como contragolpe para uma eventual tentativa da ONU de
barrar seus planos.
Vejam o imbróglio que foi criado. A
Índia e o Irã se mantêm resistentes ao
Tratado de Não-Proliferação. Para
complicar, o envio do caso à ONU instigou um clima de confrontação entre
o Irã e os países avançados. Tanto que,
na noite de quarta-feira, ao saber da
decisão da AIEA, o governo iraniano
anunciou que "o Ocidente amargará
danos e dor se seus planos foram impedidos".
Em suma, o equilíbrio nuclear foi
colocado em xeque. Mesmo reconhecendo a dimensão estratégica do acerto entre Estados Unidos e Índia para
todo o Ocidente -uma vez que o perigo chinês é uma realidade-, o acordo foi, no mínimo, ousado.
Ninguém poderia imaginar que o
século 21 seria aberto com tanta intranqüilidade. Daqui para a frente, é
contar com o bom senso dos governantes para evitar uma catástrofe
mundial.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
@ - antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
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