São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

Em outro planeta

MADRI - Os pobres da Europa estão
reunidos em Madri, em encontro organizado por uma ONG sintomaticamente chamada "Movimento Quarto Mundo". Reivindicam seu lugar na próspera Europa.
É claro que, para eles, a vida deve ser dura, como para qualquer pobre. Mas, para quem olha com olhos do verdadeiro "quarto mundo" (ou terceiro, vá lá, para não ferir sensibilidades brasileiras eventualmente aguçadas), chega a ser risível chamá-los de pobres.
Veja-se o caso do pedreiro espanhol Antonio Jiménez, relatado ontem pelo jornal "El País". Vive em uma camionete, com mulher e dois filhos de 5 e 3 anos. Por eles, a título de salário-família, ganha o equivalente a uns US$ 250 (mais de R$ 600).
No Brasil, estaria quase, quase, entrando na classe média. É claro que a vida na Espanha é algo mais cara do que no Brasil, mas não tão mais cara que torne desprezível uma renda de cerca de R$ 600.
Difere até a maneira de fazer as contas para dizer quem é pobre e quem não é. No Brasil, como no resto do "quarto mundo" (ou terceiro), usa-se o critério do Banco Mundial: pobre é quem ganha até US$ 2 por dia (o "miserável" recebe a metade). Ou, então, aplica-se a contabilidade do salário mínimo.
Na Europa, pobre é quem tem renda pelo menos 60% inferior à renda média. São mais ou menos 60 milhões de pessoas ou 18% da população total. Já é uma porcentagem comparativamente baixa (no Brasil, os pobres são quase o dobro, em porcentagem da população).
E se torna ainda mais baixa quando se lembra que a renda média européia é elevadíssima.
Receber, portanto, 40% da renda média européia pode tornar o cidadão pobre na comparação com seus pares do continente, mas o faz quase rico na comparação com os pobres do mundo em desenvolvimento.
Tudo somado, não se trata de "primeiro X quarto" mundos, mas de planetas diferentes.



Texto Anterior: Editoriais: A CRISE DA CPMF
Próximo Texto: Brasília - Valdo Cruz:Quando julho chegar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.