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PLÍNIO FRAGA
A santidade e os pecados nossos
RIO DE JANEIRO - O papa está
por aí pregando contra os que ridicularizam o matrimônio e a virgindade. Se não mais se queixa ao bispo, agora se deve ouvir ao vivo as
queixas do papa -logo sobre casamento e sexo, assuntos em que tem
entendimento filosófico de sobra,
mas experiência prática nenhuma.
Está certo: o empirismo é obra ultrapassada, mas, corretamente ou
não, é difícil aceitar sobre o melado
opiniões de quem não se lambuza.
É engraçado lembrar que se popularizou no país, como origem da
expressão folclórica "vá queixar-se
ao bispo", a versão -nunca comprovada- de que no Brasil colonial
cabia à autoridade eclesiástica permitir que noivos fizessem sexo antes do casamento para que fosse
atestada a capacidade reprodutiva
das mulheres. Muitos noivos fugiriam depois da conjunção carnal,
restando à noiva ir queixar-se ao
bispo. (A versão mais aceitável historicamente mostra a expressão como reflexo do papel dos bispos na
mediação social e política em um
Estado laico incipiente.)
É difícil entender quem ridiculariza o quê. A igreja não aceita o divórcio, esconjura o preservativo e
as relações carnais, como se não
fossem estas decorrentes de amor,
ternura, devoção ao outro.
Um dos titulares deste espaço,
Carlos Heitor Cony, consagrou a
frase de que ser católico não é para
quem quer, mas para quem pode.
Deve ter razão, como sempre, mas,
por mais que se entenda a lógica papal, a pregação poderia ser ao menos mais inteligente, contemporânea, talvez centrada no amor como
um bem pessoal inalienável e por si
demandador de exigências não conciliáveis com a licenciosidade e as
relações frouxas tão combatidas pelo sucessor de Pedro. Este, por sinal, foi quem disse: "Acrescentai à
vossa fé a virtude, e à virtude, a
ciência". Modo de não se perder entre dogmas obscurantistas.
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