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São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A indecência e as moscas

SÃO PAULO - É comovedora a capa cidade dos nobres senhores deputados de combater privilégios.
Gabam-se todos, inclusive o Executivo, de ter aprovado rapidamente a reforma previdenciária, que ataca supostos ou reais privilégios do funcionalismo público.
Pena que esta Folha, sempre muito desagradável, traga a público um baita privilégio, este, sim, incontroverso, na forma dos tais CNEs (Cargos de Natureza Especial).
Trata-se, para quem não leu, de 1.960 pessoas contratadas sem concurso público, ao custo de R$ 97 milhões só neste ano, para prestar serviço aos deputados que fazem parte da Mesa. Alguns deles atuam nos Estados de origem dos deputados.
Há funcionário que jamais aparece em Brasília, embora, salvo prova em contrário, a Câmara dos Deputados funcione na capital federal há quase meio século.
Cada deputado pode usar o argumento que quiser para tentar justificar os CNEs, como já fizeram Inocêncio Oliveira (PFL-PE), Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e o próprio presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP), pela palavra de seu assessor de imprensa.
Mas não há outra palavra para designar mais esse trambique que não seja indecência.
Indecência agravada pelo fato de que os deputados, em sua maioria, foram muito rápidos para derrubar supostos privilégios alheios, mas continuaram a usufruir de seus próprios (e reais) privilégios.
Indecência maior é a do presidente da Câmara, que vem de um partido que jamais a comandou e, portanto, não pode ser acusado de responsável pela implantação do esquema dos CNEs. Mas, já que encontrou a indecência instalada, para que desmontá-la, se mexeria com interesses mais poderosos do que o do funcionalismo comum? Essa é a mudança que o PT prometeu? A das moscas apenas?


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