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CLÓVIS ROSSI
A indecência e as moscas
SÃO PAULO - É comovedora a capa cidade dos nobres senhores deputados de combater privilégios.
Gabam-se todos, inclusive o Executivo, de ter aprovado rapidamente a
reforma previdenciária, que ataca
supostos ou reais privilégios do funcionalismo público.
Pena que esta Folha, sempre muito
desagradável, traga a público um
baita privilégio, este, sim, incontroverso, na forma dos tais CNEs (Cargos de Natureza Especial).
Trata-se, para quem não leu, de
1.960 pessoas contratadas sem concurso público, ao custo de R$ 97 milhões só neste ano, para prestar serviço aos deputados que fazem parte da
Mesa. Alguns deles atuam nos Estados de origem dos deputados.
Há funcionário que jamais aparece
em Brasília, embora, salvo prova em
contrário, a Câmara dos Deputados
funcione na capital federal há quase
meio século.
Cada deputado pode usar o argumento que quiser para tentar justificar os CNEs, como já fizeram Inocêncio Oliveira (PFL-PE), Geddel Vieira
Lima (PMDB-BA) e o próprio presidente da Casa, João Paulo Cunha
(PT-SP), pela palavra de seu assessor
de imprensa.
Mas não há outra palavra para designar mais esse trambique que não
seja indecência.
Indecência agravada pelo fato de
que os deputados, em sua maioria,
foram muito rápidos para derrubar
supostos privilégios alheios, mas continuaram a usufruir de seus próprios
(e reais) privilégios.
Indecência maior é a do presidente
da Câmara, que vem de um partido
que jamais a comandou e, portanto,
não pode ser acusado de responsável
pela implantação do esquema dos
CNEs. Mas, já que encontrou a indecência instalada, para que desmontá-la, se mexeria com interesses mais
poderosos do que o do funcionalismo
comum? Essa é a mudança que o PT
prometeu? A das moscas apenas?
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