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ELIANE CANTANHÊDE
Tributária, a bola da vez
BRASÍLIA - Quando se fala em reforma tributária, os governos, inclusive
o atual, explicam que é para dar
mais racionalidade ao sistema e reduzir impostos, contribuições e taxas.
Em resumo: desonerar a produção e
melhorar a vida do contribuinte. Ao
fim e ao cabo, todos -capital, trabalho, União, Estados e municípios-
viveriam felizes para sempre.
Quando se deixa de falar e se põe a
mão na massa, a conversa passa a ser
totalmente outra. A União só pensa
em prorrogar a CPMF e a DRU (que
lhe dá o direito de usar 20% da grana
a seu bel-prazer). Estados e municípios pressionam para morder a
CPMF e a Cide (o famigerado imposto da gasolina). Empresários tentam
diminuir a carga tributária -altíssima, aliás. E nós, contribuintes, sonhamos com geração de empregos e
um refresco nas contas.
A reforma da Previdência já é um
parto, apesar de juntar todos contra
um: o servidor. Imagine a reforma
tributária, que opõe todos contra todos! Exemplo: na previdenciária, governo federal e governadores tinham
interesse comum em reduzir a folha
de ativos e inativos. Agora, cada um
vai para um lado, disputando fatias
dos mesmos tributos a tapa.
Há também novos atores: os empresários, que não tinham nada a ver
com a aposentadoria de funcionários, têm tudo a ver com ICMS, IPI,
CPMF. Se dependesse deles, evaporariam todos. Detalhe: empresários costumam ter aliados fiéis e atuantes na
Câmara e no Senado. O próprio presidente da CNI (a confederação da
indústria), Armando Monteiro, é deputado da comissão da reforma.
Somando as pressões de todos os lados, temos uma conta que não fecha:
todos querem reduzir o que pagam e
aumentar o que recebem. Sabe o que
acaba acontecendo? Ou se vota só o
que interessa diretamente ao governo federal -a CPMF e a DRU-, ou,
no frigir dos ovos, vai ter mesmo é aumento da carga tributária. Que já é
de 36% do PIB!
Para ficar claro: vai sobrar pra mim
e pra você. E o lucro fenomenal dos
bancos? Ah! Deixa isso pra lá.
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