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São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Tributária, a bola da vez

BRASÍLIA - Quando se fala em reforma tributária, os governos, inclusive o atual, explicam que é para dar mais racionalidade ao sistema e reduzir impostos, contribuições e taxas. Em resumo: desonerar a produção e melhorar a vida do contribuinte. Ao fim e ao cabo, todos -capital, trabalho, União, Estados e municípios- viveriam felizes para sempre.
Quando se deixa de falar e se põe a mão na massa, a conversa passa a ser totalmente outra. A União só pensa em prorrogar a CPMF e a DRU (que lhe dá o direito de usar 20% da grana a seu bel-prazer). Estados e municípios pressionam para morder a CPMF e a Cide (o famigerado imposto da gasolina). Empresários tentam diminuir a carga tributária -altíssima, aliás. E nós, contribuintes, sonhamos com geração de empregos e um refresco nas contas.
A reforma da Previdência já é um parto, apesar de juntar todos contra um: o servidor. Imagine a reforma tributária, que opõe todos contra todos! Exemplo: na previdenciária, governo federal e governadores tinham interesse comum em reduzir a folha de ativos e inativos. Agora, cada um vai para um lado, disputando fatias dos mesmos tributos a tapa.
Há também novos atores: os empresários, que não tinham nada a ver com a aposentadoria de funcionários, têm tudo a ver com ICMS, IPI, CPMF. Se dependesse deles, evaporariam todos. Detalhe: empresários costumam ter aliados fiéis e atuantes na Câmara e no Senado. O próprio presidente da CNI (a confederação da indústria), Armando Monteiro, é deputado da comissão da reforma.
Somando as pressões de todos os lados, temos uma conta que não fecha: todos querem reduzir o que pagam e aumentar o que recebem. Sabe o que acaba acontecendo? Ou se vota só o que interessa diretamente ao governo federal -a CPMF e a DRU-, ou, no frigir dos ovos, vai ter mesmo é aumento da carga tributária. Que já é de 36% do PIB!
Para ficar claro: vai sobrar pra mim e pra você. E o lucro fenomenal dos bancos? Ah! Deixa isso pra lá.


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