São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Liberdade para o gás de cozinha
DEMÉTRIO AUGUSTO ZACHARIAS E JARBAS ANDRADE MACHIONI
Pelas atuais normas da ANP, a engarrafadora não pode se utilizar de botijão que não tenha a sua marca nele estampada. Há um dilema grave, mas, sem alternativas, as empresas, então, engarrafam o botijão independentemente da marca. Essa prática chama-se "botijão OM", ou botijão de outras marcas. Todas as empresas do setor fizeram ou fazem uso dessa prática. Elas tomam o cuidado de identificar botijões OM com sua própria marca e cores e lacre, deixando clara a sua origem. Adotam tal prática legitimadas por pareceres dos maiores juristas do país, nomeadamente, os professores Miguel Reale, Eros Roberto Grau, Celso Antonio Bandeira de Mello, Marcus Elídius Michelli de Almeida, J. J. Calmon de Passos e o saudoso ministro Evandro Lins e Silva. As pequenas e médias empresas defendem o engarrafamento de botijões OM como única e eficaz maneira de combater a cartelização do setor, pois somente essa liberalização dará suficiente garantia de que botijões de sua marca não serão desviados. É essa garantia que permitirá a entrada de novos agentes e empresas dentro do processo de abertura do mercado defendido pelo governo. As grandes empresas, contrariamente, por intermédio do Sindigás, afirmam que o setor é competitivo e que (obviamente) elas não formam um cartel, mas um mero oligopólio. Querem que o uso do botijão OM permaneça vetado. Quais são os argumentos? Ei-los: 1. O botijão seria de propriedade da empresa cuja marca está estampada nele. É um equívoco total. O consumidor comprou o botijão da distribuidora, reembolsando o capital empregado para que ela colocasse no mercado o vasilhame. Como alguém arvorar-se em permanente dono da coisa vendida? 2. O Código da Propriedade Industrial veda o uso da marca alheia. Quem engarrafa botijão OM não quer usar a marca nele estampada, mas o vasilhame. Por isso, cobre a marca alheia, para realçar a sua. Tal questão já foi debatida desde as primeiras décadas do século passado. A jurisprudência autoriza esse entendimento, facultando a reutilização de vasilhames. 3. A prática de uso dos botijões OM não dá segurança ao consumidor. É uma inverdade. O engarrafamento de botijão OM dá mais segurança ao consumidor do que a marca no corpo do vasilhame, mediante o uso de um selo antiinflamável nele colado, identificando quem, quando e onde o vasilhame foi engarrafado. A segurança desse procedimento é atestada tecnicamente. Os argumentos do oligopólio são usados contra a verdade. O que as grandes empresas querem é manter o mercado fechado, o que comprovadamente encarece o preço do gás de cozinha. Mas é preciso não ceder a pressões e finalmente liberar o setor de práticas cartelizadoras. Demétrio Augusto Zacharias, 47, empresário, é presidente da Angás. Jarbas Andrade Machioni, 46, advogado, é especialista em ações institucionais e consultor jurídico da entidade. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Luiz Marinho e José Lopez Feijóo: Do holerite às compras Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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