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CARLOS HEITOR CONY
Céu de ministro
RIO DE JANEIRO - Vejo alguma
luz no fim do túnel da crise no
transporte aéreo. Nada relevante
ainda. Mas qualquer marcha de
cem quilômetros começa com alguns centímetros do primeiro passo. Foi preciso que o novo ministro
da Defesa tivesse 1,90 m de altura
para termos a esperança de uma
distância maior entre os assentos
dos aviões -que o pessoal do setor
insiste em chamar de aeronaves.
Dois desastres fatais em pouco
tempo, greves, atrasos monumentais, turbinas com reversores travados, controladores de vôo exaustos,
pistas pequenas e escorregadias
-tudo isso ficará para uma segunda
etapa, provavelmente para o Mangabeira Unger resolver, são questões que requerem planejamentos a
longuíssimo prazo.
Por ora, mudou-se o ministro de
Defesa e ao menos uma reivindicação pessoal ele já externou: quer espaço maior para colocar confortavelmente seus quase dois metros de
altura. E as companhias não terão
dificuldades de atendê-lo. Poderão
aumentar o espaço das duas ou três
primeiras fileiras, bastando tirar
dois centímetros das demais, destinadas ao padrão médio do brasileiro, que mal chega a metro e 70.
O presidente Lula tem menos altura que isso, mas é um gigante honoris causa: dispõe de uma suíte inteira para viajar. E seu avião nunca
tem o reversor travado -dá um trabalhão substituir presidente da República, todo o cuidado é pouco em
seus muitos deslocamentos aéreos.
Antigamente, havia o céu de brigadeiro. Já temos agora o céu do
Lula. Breve teremos o céu do ministro da Defesa. De todas as medidas
que ele anunciou e ameaçou tomar,
a única que parece ser um pleito
pessoal foi a do espaço entre os assentos. O próximo passo será a
proibição do reversor travado toda
vez que sua excelência viajar em defesa do Brasil.
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