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São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Era tudo mentira?

CANCÚN - Acordei cedinho ontem.
Primeiro, para trabalhar, que ter duas horas de fuso horário contra o horário de fechamento é mortal.
Mas, acima de tudo, acordei cedo porque estava certo de que os jornais anunciariam que minha Argentina querida havia sido decepada do mapa, remetida a uma galáxia distante, incendiada, com todos os seus habitantes dentro, depois, é claro, de os argentinos expatriados terem sido chamados de volta ao país.
Afinal, a Argentina primeiro deu o calote nos credores privados, o maior calote da história (ah, esses argentinos...). Depois, ainda dão o calote até no FMI. São imbatíveis.
Como a teoria hegemônica, dita neoliberal, ensina que país que dá calote está condenado a sofrer todos os males que os deuses e os seres humanos inventaram, pior que a peste negra, é lógico que um país que dá não um, mas dois calotes, teria de ser exterminado.
Imaginei até que Arnold Schwarzenegger seria convencido pelo FMI a abandonar a candidatura ao governo da Califórnia para assumir o papel de interventor na Argentina e desempenhar ali o seu papel preferido, o de exterminador do futuro (do passado e do presente também, para que não houvesse a mais leve dúvida de que comportamentos como o argentino não têm perdão).
Aí, vejo na Folha que:
1 - A Argentina continua lá, onde sempre esteve, bela e faceira.
2 - O FMI não só não cancelou a ficha de inscrição do país nele próprio e no resto do mundo como ainda se animou a fazer um acordo em termos mais favoráveis do que vinha propondo até o calote.
Para comparação com o Brasil: o superávit que o FMI exige da Argentina, pós-calote, é de 3%, em vez dos 4% que pretendia, enquanto o Brasil, sem que o FMI exigisse, aumentou o seu de 3,75% para 4,25% (e, ainda por cima, nada pediu em troca).
Tudo somado, você, leitor, tem a obrigação de duvidar, doravante, de tudo o que lhe disserem a respeito dos inexoráveis males que afetarão países que saírem da linha.


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