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CLÓVIS ROSSI
Era tudo mentira?
CANCÚN - Acordei cedinho ontem.
Primeiro, para trabalhar, que ter
duas horas de fuso horário contra o
horário de fechamento é mortal.
Mas, acima de tudo, acordei cedo
porque estava certo de que os jornais
anunciariam que minha Argentina
querida havia sido decepada do mapa, remetida a uma galáxia distante,
incendiada, com todos os seus habitantes dentro, depois, é claro, de os
argentinos expatriados terem sido
chamados de volta ao país.
Afinal, a Argentina primeiro deu o
calote nos credores privados, o maior
calote da história (ah, esses argentinos...). Depois, ainda dão o calote até
no FMI. São imbatíveis.
Como a teoria hegemônica, dita
neoliberal, ensina que país que dá calote está condenado a sofrer todos os
males que os deuses e os seres humanos inventaram, pior que a peste negra, é lógico que um país que dá não
um, mas dois calotes, teria de ser exterminado.
Imaginei até que Arnold Schwarzenegger seria convencido pelo FMI a
abandonar a candidatura ao governo da Califórnia para assumir o papel de interventor na Argentina e desempenhar ali o seu papel preferido,
o de exterminador do futuro (do passado e do presente também, para que
não houvesse a mais leve dúvida de
que comportamentos como o argentino não têm perdão).
Aí, vejo na Folha que:
1 - A Argentina continua lá, onde
sempre esteve, bela e faceira.
2 - O FMI não só não cancelou a ficha de inscrição do país nele próprio
e no resto do mundo como ainda se
animou a fazer um acordo em termos mais favoráveis do que vinha
propondo até o calote.
Para comparação com o Brasil: o
superávit que o FMI exige da Argentina, pós-calote, é de 3%, em vez dos
4% que pretendia, enquanto o Brasil,
sem que o FMI exigisse, aumentou o
seu de 3,75% para 4,25% (e, ainda
por cima, nada pediu em troca).
Tudo somado, você, leitor, tem a
obrigação de duvidar, doravante, de
tudo o que lhe disserem a respeito dos
inexoráveis males que afetarão países que saírem da linha.
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