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FERNANDO RODRIGUES
O uso da popularidade
BRASÍLIA - Lula tateou o terreno,
mas parece ter abandonado de vez a
espinhosa missão de corrigir a anômala invenção do capitalismo sem
risco brasileiro chamada caderneta
de poupança. Nenhum país do planeta consegue vencer completamente a inflação, os juros altos e a
indexação quando o governo está
obrigado a garantir a todos um rendimento de 6% ao ano, mais a variação da TR (Taxa Referencial). Tudo
livre de imposto.
A medida é altamente popular. A
menos de um ano da eleição, políticos não apreciam correr riscos. Taxar a poupança não rende votos.
Esse episódio ilustra à perfeição
como o Brasil está longe de se tornar de fato o que Lula e parte do PT
acham que o país já é. As dezenas de
reformas institucionais empacadas
ficaram em segundo plano por causa da recuperação da economia. Sumiu da agenda do governo a urgência para melhorar a Previdência e o
sistema tributário.
Aí vem o paradoxo. Lula é o presidente mais forte politicamente desde o fim da ditadura militar. Sua
aprovação pessoal, na redondeza
dos 80%, tem chance real de romper novos recordes em 2010.
O filme sobre sua vida ajudará.
Rivaliza com o marketing antecipado de grandes produções de Hollywood. A economia, tudo indica,
crescerá na casa dos 4% anuais ou
mais no ano que vem.
Apesar de todo esse poder, Lula
não se arrisca. É quase certo que
seu sucessor terá menos força política, seja Dilma (PT), Serra (PSDB)
ou Ciro (PSB). Em resumo, se o lulismo e seu ícone não tiveram coragem de implantar determinadas reformas, por que o próximo presidente teria? Não terá. Algum dia, o
encanto se quebra. O Brasil perceberá quais são seus bolsões de atraso, embora pareça ser nula agora a
disposição dos eleitores para ver a
realidade. É mais cômodo acreditar
no "Brasil Grande" da Copa de 2014
e da Olimpíada de 2016.
frodriguesbsb@uol.com.br
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